Ficará pronto no segundo semestre deste ano o material pedagógico para o ensino obrigatório da história da África nas escolas da rede pública e do setor privado, conforme determina Lei 10.639, de 2003. Segundo o coordenador-geral de Diversidade do Ministério da Educação (MEC), Antônio Mário Ferreira, estão sendo elaborados livros para professores e alunos desde o nível infantil até o ensino médio e fundamental. Além disso, será disponibilizado um atlas, que relaciona a África com os demais continentes e, em especial, a ligação com o Brasil e a América Latina.
Ferreira participou hoje (6) do lançamento, em São Paulo, da coleção História Geral da África, na versão em português, no Teatro Tucarena, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na capital paulista. No fim do ano passado, a coleção foi lançada em Brasília. E no último fim de semana, cerimônia semelhante ocorreu, na Bahia.
Disponibilizada, inicialmente, em inglês, francês e árabe, a coleção é formada por oito volumes e 10 mil páginas. A obra levou levou 30 anos para ser concluída, envolvendo 350 pesquisadores coordenados por um comitê científico com 39 especialistas, sendo dois terços deles africanos. A versão em português resultou de uma parceria entre a Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o MEC e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O representante do MEC informou que será feito um resumo da coleção para ser usado nas universidades. “A partir desta obra vamos reconstruir a história do Brasil e propiciar para o ensino futuro o conhecimento sobre a história da África e dos negros no mundo. Serão homens e mulheres que vão perceber a diversidade e as reais origens da etnia social “, disse.
Ferreira observou que no Brasil a história do negro é contada a partir da escravidão. “Parece que a gente nasceu no cativeiro, o que não é verdade, porque a nossa história é de um continente que teve civilizações, produziu aço, trabalhou a pedra, a cultura, a arte e a filosofia entre outras contribuições”, afirmou.
O representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, destacou que são 3 milhões de anos de história e que incluem o berço da civilização. Segundo ele, desde o lançamento da coleção em português, em dezembro do ano passado, a versão eletrônica foi acessada 30 mil vezes.
A expectativa da Unesco, segundo Defourny, é que esse trabalho seja um instrumento também de combate ao preconceito racial e de afirmação da cultura de um povo. “Os escravagistas tiraram deles a liberdade, mas não lhe tiraram a cultura, a língua e as tradições, transmitidas para as futuras gerações”.
Na opinião dele, este é o momento mais oportuno para avançar nessas questões sociais, valorizando a riqueza da cultura africana porque o Brasil vive um bom momento de expansão econômica, com democracia. Defourny defende entre outros aspectos o respeito às crenças religiosas que tiveram origem na África. “Tem de ser reconhecida essa diversidade”.
O professor da Universidade de Michigan (Estados Unidos) e membro do Comitê Científico para a Elaboração do Material Pedagógico da História Geral da África, Jean Michel Tali, também participou do ato de lançamento. Ele ressaltou que nenhum historiador contesta, hoje, que foi a partir da África que surgiram as civilizações que se espalharam pelo resto do mundo. “Foram construídos na África estados poderosos, impérios ricos, ao contrário do que se propaga, de uma população que vive em selva sem nenhuma estrutura social. Não vivemos nas árvores”. De acordo com ele, a coleção expõe realidades desconhecidas, entre elas, a do movimento das colonizações que oprimiu os povos africanos.