O prédio onde funcionava o Cine Belas Artes vai completar um ano de fechamento no sábado. Nessa data, integrantes do Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA) prometem reunir centenas de pessoas na frente do imóvel, localizado na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, para pedir a reabertura do cinema. O prédio foi inaugurado em 1943, como Cine Ritz, e desde 1967 abrigava o Belas Artes.

No dia 19 de dezembro, a Justiça decidiu que o processo de tombamento do imóvel deveria ser reaberto. A liminar dada pelo juiz Jayme Martins de Oliveira, da 13ª Vara da Fazenda Pública, acolheu um pedido do Ministério Público Estadual, que havia sido acionado pelos defensores do cinema.

O MBA procurou a Justiça após o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), ligado ao governo do Estado, negarem o tombamento do prédio.

Na decisão, o juiz afirma haver indícios de que os órgãos municipal e estadual não observaram “procedimentos necessários e legais ao exame da qualidade cultural do imóvel”. Os conselhos dos órgãos ainda vão analisar o novo processo de tombamento. Enquanto isso, o dono do prédio não pode alugá-lo ou reformá-lo.

O escritor Afonso Lima, de 35 anos, um dos coordenadores da MBA, quer que o governo ou a Prefeitura compre o prédio e o declare como de utilidade pública para evitar o fim do Belas Artes. “Em Paris, a prefeitura comprou várias livrarias no Quartier Latin, impedindo que o bairro perdesse seu patrimônio cultural. A prefeitura alugou os espaços para os livreiros para que o bairro não perdesse a identidade”, disse Lima.

Segundo o escritor, o movimento pretende entregar nos próximos dias uma carta para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e para o prefeito Gilberto Kassab (PSD) com essa proposta. “Os governantes não podem ficar omissos nessa questão”, afirmou.

Ao renovar o aluguel, André Sturm, um dos sócios do Belas Artes, ofereceu R$ 85 mil por mês. Segundo Sturm, Flávio Maluf, dono do prédio, queria R$ 150 mil e informou que alugaria o prédio para uma loja de departamento. O JT entrou em contato com o advogado Fabio Luchesi Filho, que representa Maluf, mas ele não retornou as ligações.

Enquanto espera por um desfecho, frequentadores do Belas Artes migraram para outros cinemas da região, como o Cinesesc, o Reserva Cultural e o Espaço Unibanco. “Não é a mesma coisa. O Belas Artes era uma extensão da minha casa. Em cada uma das salas eu tinha a minha poltrona favorita”, disse a artesã Silvia Paulita, de 48 anos. O primeiro filme que ela viu no local nos anos 1970 foi Tubarão (1975), de Steven Spielberg.