Ventos fortes que atingiram a região do Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais, agravaram o fogo que toma conta de uma grande área da unidade de conservação há quase uma semana. A expectativa dos 70 combatentes que atuam no local era controlar o incêndio até o meio-dia de hoje (11).
“A situação ainda está bastante complicada. Tivemos uma mudança de ventos que mudou tudo. Neste momento, estamos jogando água apenas com os helicópteros para os brigadistas descansarem”, relatou Edward Elias Júnior, analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Segundo ele, as chamas chegam a 4 metros de altura e o vento faz com que o fogo se alastre de forma ainda mais rápida. Elias explicou que os agentes foram retirados do parque por não terem condições de combate direto nesse cenário. Além do vento, os termômetros na região marcam 30 graus Celsius e a umidade do ar está em torno de 20%.
“Chegamos a um limite de recursos e ainda tem bastante fogo no local”, disse o analista ambiental. As equipes estão trabalhando no combate ao fogo desde sexta-feira (5). Na noite de ontem (10), os combatentes intensificaram os trabalhos, trabalhando até a 1h na área. Depois de três horas de descanso, os agentes voltaram ao local. “Mas, agora, estamos tirando o pessoal de lá. Não temos condição de combate direto”, acrescentou Elias Júnior.
Ainda não existe um cálculo oficial sobre a área atingida pelo incêndio, mas os agentes que atuam no combate ao fogo estimam que os prejuízos já tenham afetado mais de 6 mil hectares da unidade de conservação, que tem cerca de 100 mil hectares.
“Perdemos de dez a 15 anos de recuperação desta área com o incêndio. Foi um retrocesso. Já tinha uma série de muda de árvores e morreram todas”, avaliou o analista ambiental. As perdas em relação à fauna ainda não foram calculadas. “Vimos muitos animais, principalmente répteis. E ainda teremos o efeito indireto, que é a morte de outros animais que perderam áreas de abrigo e de alimentação.”
Áreas em que capivaras e lobos costumavam procurar alimentos foram totalmente destruídas. O incêndio também tem impactos em cidades próximas, como Belo Horizonte, que fica a 100 quilômetros da unidade. O Parque da Serra do Cipó é estratégico pela conservação do Rio Cipó, que garante qualidade da água ao principal manancial que abastece a capital mineira. “A bacia foi completamente afetada”, avaliou Elias Júnior.
Apesar de técnicos do ICMBio considerarem o incêndio o pior dos últimos 20 anos, moradores da região não acreditam que o fogo vai atrapalhar os negócios voltados principalmente para o turismo. “Este fogo é dentro do parque [em uma área] onde ficam duas ou três cachoeiras, mas temos cachoeiras mais próximas, fora do parque”, disse Duceu Alves de Sousa, gerente de uma pousada próxima ao parque. Souza contou que recebeu várias ligações de hóspedes preocupados com a situação. “Todo ano, eles colocam fogo e está muito seco. A última chuva que lembro foi em maio. O pessoal vai ao parque e coloca fogo, e acho que é de propósito”.
Nelly Moreira, proprietária de uma outra pousada, não espera que o parque abra para visitação nas próximas semanas, mas, segundo ela, nenhuma reserva para o feriado prolongado, que começa amanhã (12), foi cancelada.
“Tem outros lugares para o turista. Dentro do parque é bonito, mas a pessoa tem que ter fôlego porque tem que andar muito”, disse Nelly. A empresária concorda que o incêndio deste ano é mais intenso, mas destaca: “Sou moradora daqui há 50 anos, e todos os anos queima. Para o turista, isso é muito ruim, mas para nós que moramos aqui é pior ainda saber que as coisas tão lindas que existem no parque viraram cinza.”
De acordo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma frente fria que se aproxima do estado já provocou chuva no Triângulo Mineiro e no sul de Minas. A previsão é que, nas próximas 24 horas, chova na região central do estado, onde fica o parque.
Segundo meteorologias do instituto, algumas cidades no Vale do Jequitinhonha e norte do estado estão há mais de 120 dias, ou quatro meses, sem chuva.