Foi com os olhos marejados que Marcela Almeida, 29 anos, e Kelly Gislaine Ferreira, 33 anos, seguiram ao altar para realizar um grande sonho. A união estável ocorreu no mês de fevereiro, no pátio de recreação da Penitenciária Feminina I “Santa Maria Eufrásia Pelletier” de Tremembé, e contou com a participação aproximada de 60 reeducandas, além de funcionários e familiares das noivas.
O relacionamento teve início no Natal de 2009, mas apenas agora a legislação permitiu que elas pudessem se unir usufruindo de todos os diretos legais que um casamento convencional oferece. A norma que regulamenta o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, foi publicada em 18/12/2012. O casamento e união estável foram inseridos nas previsões das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo.
A partir dessa data os casais homossexuais que quisessem oficializar a união não precisariam mais recorrer à Justiça. A união poderá ser oficializada através dos cartórios do Estado de São Paulo.
As detentas que estão juntas há mais de dois anos, já dividiam a mesma cela, mas foi em 2011 que começaram a luta para conseguirem a regularização da união. Elas procuraram a direção da unidade, que pediu autorização à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), através da Coordenadoria da Região do Vale e Litoral, que permitiu o evento.
Muitos servidores colaboraram com a realização da festa; além dos vestidos, cabelo e maquiagem, foi tudo organizado como manda a tradição: enfeites, bolo, salgados e buquê. As presas também ajudaram com os gastos, elas trabalham como costureiras recebendo um salário mínimo cada e remição de pena.
Kelly, que pode sair o ano que vem da prisão, diz que nunca deixará de visitar Marcela, que deve cumprir pena até 2024. “Eu sempre virei vê-la, quando sairmos daqui, construiremos nossa vida como qualquer casal”, relatou.
José Maurício Almeida, pai de Marcela, destacou o apoio da família nesse momento. “Muitos familiares vieram. A emoção é a mesma que a de um casamento hetero. O mais importante é que elas estão felizes”, disse.
Mas foi Marcela quem melhor descreveu o significado da cerimônia: “É o primeiro casamento homossexual dentro de uma unidade prisional no estado, a sensação é de dever cumprido, de sonho realizado. Nós quebramos barreiras, mostramos a outros casais seus direitos, nos tornamos um referencial para muitas pessoas”, explicou.
Segundo a diretora da unidade, Eliana Maria de Freitas Pereira, muitos outros casais já entraram na fila de espera. “Além de auxiliá-las na realização de um sonho, trabalhamos também com suas reinserções à sociedade”, completou.