A cidade de São Paulo fechou o primeiro trimestre de 2013 com aumento de 18% no número de homicídios dolosos (ou seja, com intenção de matar) em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o oitavo mês consecutivo em que os números aumentaram, se comparado aos meses equivalentes no ano anterior.
Para o cientista político e especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o avanço dos homicídios na capital é fenômeno que se observa pelo menos desde o ano passado.
“Tivemos uma queda nos casos durante 11 anos, a partir do ano 2000, depois do pico e mortes em 1999. Não sabemos ao certo por que houve a queda, mas a guerra velada entre o PCC [Primeiro Comando da Capital] e a polícia vem desde o ano passado e pode ser que continue”, disse.
Segundo as estatísticas mensais divulgadas pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), a capital registrou 305 homicídios de janeiro a março deste ano, diante de 258 de janeiro a março de 2012. Em março passado, foram 125 casos –mais que os 89 de fevereiro e que os 96 de março do ano passado.
O número de vítimas por homicídios dolosos no trimestre também cresceu 18%: foram 325 este ano, diante de 274 no primeiro trimestre de 2012.
Estupros aumentam
Conforme os números, também cresceram na capital os números de casos de estupro: foram 867 este ano, contra 688 de janeiro a março do ano passado, aumento de 26%. Só em 2013, por sinal, os casos de estupro vêm em uma crescente: foram 269 casos em janeiro, 287 em fevereiro e 311 em março.
Roubos crescem
As estatísticas mostram também aumento no número de roubos e latrocínio (roubo seguido de morte) na capital. Ao todo, foram 28.123 casos este ano (9.732 em março, 8.928 em fevereiro e 9.463 em janeiro), contra 27.570 de janeiro a março de 2012 –variação positiva de 2%.
Os roubos de veículos também aumentaram –3,5% de um ano a outro –, ao passarem de 11.309 casos para 11.711. Furtos de veículos na capital tiveram alta de 3% –de 11.170 para 11.543 no primeiro trimestre.
Latrocínios
Os casos de latrocínio quase dobraram: foram 40 este ano, contra 22 no primeiro trimestre de 2012, aumento de 82%. Em relação a fevereiro, houve queda de cinco casos: foram dez casos em março, e 15 no mês anterior.
Um dos latrocínios que mais repercutiram foi o do universitário Victor Hugo Deppman, 19, assassinado em frente ao prédio onde morava, no Belém (zona leste de SP), por um adolescente de 17 anos –que, detido, completou 18 anos três dias após o crime.
O caso levou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a anunciar que seu partido proporá ao Congresso Nacional um projeto de lei que propõe tornar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mais rígido em relação a adolescentes envolvidos em casos de violência considerados graves e reincidentes.
Entre as mudanças propostas na legislação pelo governador está a de que, após completar 18 anos, o jovem sentenciado por crime violento teria de cumprir a pena em uma unidade do sistema penitenciário. Hoje, pela lei, ele pode ficar até os 21 anos em unidades destinadas a menores.
Onda de ataques e grupos de extermínio
Além da proposta de alterações no ECA, outro contexto para o aumento dos índices de violência na capital paulista são as chacinas recentes em cidades da Grande São Paulo e os ataques incendiários a ônibus.
Na noite dessa quarta (24), por exemplo, um ônibus foi incendiado após assalto no Jardim Cumbica, em Guarulhos. Ninguém ficou ferido.
Também nessa quarta, os chefes das polícias Civil e Militar no Estado afirmaram, em entrevista coletiva, que ao menos dois PMs de Osasco (Grande SP) estão presos administrativamente suspeitos de participar de chacinas na cidade e em Carapicuíba, em fevereiro e abril deste ano.
Além dos PMs, dois vigilantes noturnos são investigados e serão, junto com os policiais, alvos de pedido de prisão temporária à Justiça hoje (25).
“Guerra velada entre polícia e PCC vem desde 2012”, diz especialista
Para Guaracy Mingardi, o aumento dos assassinatos é reflexo da ação de grupos de extermínio investigados dentro da própria PM –ainda que o comando da corporação e mesmo da Polícia Civil atribua as suspeitas envolvendo policiais a “desvios de conduta que são atos isolados”.
“Os grupos de extermínio, depois que se constituem, acabam ganhando uma autonomia que não se esperava que ganhassem –eles podem vir para vingar a morte de alguém e depois é muito difícil parar com esse fenômeno”, declarou.
Na avaliação de Mingardi, houve um “erro de estratégia” por parte do governo estadual em se delegar ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) a investigação das mortes atribuídas a policiais sem que se equipasse o órgão especificamente para esse tipo de apuração.
“O Estado precisa investir em mais gente que investigue esses casos e treinar essas equipes. Se a PM mata em média 200 pessoas por ano na cidade, não se pode simplesmente transferir a investigação dessas mortes ao DHPP sem dar a ele sustentação, pois ali já são investigados os demais homicídios da cidade”, citou.
Procurada pela reportagem, a SSP informou, por meio da assessoria de imprensa, que não deverá se pronunciar, por ora, sobre os dados.