O sumiço de 160 projéteis retirados dos cadáveres de 111 presos mortos no massacre do Carandiru foi apresentado pelo Ministério Público aos jurados, ontem (21), como argumento à impossibilidade de se individualizar a conduta dos réus. Ao todo, 26 policiais militares que agiram no segundo pavimento do pavilhão 9 do presídio respondem por homicídio qualificado, só na ala a ação da PM deixou 15 detentos mortos.
A sessão foi aberta pelo juiz José Augusto Marzagão com os debates. Falando diretamente aos jurados, sem microfone, o promotor Fernando Pereira da Silva citou a eles o caráter histórico do julgamento, avisou-os que “haverá repercussão”, uma vez que o massacre foi “a pior matança dentro de um presídio, segundo a ONU [Organização das Nações Unidas]”, disse.
Segundo Silva, que insistiu com os jurados que a acusação não individualiza a ação dos PMs desde março de 1993 –cinco meses após o massacre –, havia não apenas 160 projéteis retirados dos cadáveres dos presos, como fotos coloridas deles, única prova, agora, de que exisitiram. Elas estavam no Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), órgão para o qual são remetidos todos os inquéritos (com eles, as provas) dos distritos da capital. O órgão fica no segundo andar do Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), onde ocorre o júri dos PMs desde a última segunda (15).
“A confirmação do sumiço veio apenas um mês antes do primeiro julgamento [28 de janeiro deste ano]. Não se sabe se foi a Polícia Civil ou Polícia Militar”, disse o promotor, lembrando que as provas, das quais dependeria eventual laudo de confronto balístico, estavam no Dipo.
O caso, segundo a reportagem apurou com o Tribunal de Justiça de São Paulo, corre sob investigação ao menos desde março, quando o IC (instituto de Criminalística) informou ao Tribunal que não seria possível novo exame balístico por questões técnicas: tanto pelo tempo decorrido e pelos danos nas armas, desde então, quanto pelo sumiço desses projéteis.
Os debates devem durar dez horas, três horas para acusação, três para defesa e duas horas de réplica e tréplica para cada, caso queiram fazer uso da medida.