De olho em 2008 Um fator pesou na decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB e apoiar Eduardo Campos –admitindo, inclusive, ser sua vice, mesmo tendo o triplo de suas intenções de votos. Na conversa que tiveram na madrugada de sábado, Campos reiterou a Marina o compromisso de, se eleito, mandar ao Congresso emenda constitucional para acabar com a reeleição. Nesse cenário, como vice atuante e com uma aliança já assegurada, Marina seria um nome forte para a eleição de 2018.

Timing O programa de dez minutos do PSB que vai ao ar quinta-feira no horário da propaganda partidária será refeito para mostrar a aliança com Marina Silva. A propaganda vai reafirmar a legitimidade da Rede e exibir cenas do anúncio da aliança.

Superexposição A Rede Globo exibiu seis propagandas estreladas por Eduardo Campos no intervalo de “Sangue Bom” sábado. Em seguida, o “Jornal Nacional” dedicou 4m22s à notícia. Por fim, mais três inserções do PSB foram ao ar no primeiro intervalo de “Amor À Vida”.

Top of Mind Para estrategistas de Campos, o combo do noticiário da TV mais os spots partidários e a repercussão nas redes sociais representa o equivalente a 200 milhões de GRPs (Gross Rating Points), parâmetro usado para medir o alcance de mídia de uma notícia.

Despertar A ideia de que Marina seja vice de Campos não agrada aos sonháticos. “Espero que essa chapa se inverta e seja Marina presidente e Eduardo vice. Caso contrário, vou defender candidatura própria do PDT”, diz o deputado federal Reguffe (DF), que não se filiou ao PSB.

Em casa Marina não transferiu o domicílio eleitoral do Acre, o que acaba com a especulação de que poderia ser candidata ao governo do Rio ou do Distrito Federal para puxar votos para Campos.

Epocler Lula soube da união entre Campos e Marina num sítio em Ibiúna com a família do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. “Agora foi um direto no fígado”, reagiu o petista, segundo relatos.

De pé Ao telefonar para Aécio Neves, que está em Nova York, Campos disse que foi surpreendido pela iniciativa de Marina. Combinaram de se encontrar, e o governador de Pernambuco disse que os acertos entre PSB e PSDB nos Estados estão mantidos.

Lá e cá O PT pretende explorar as contradições de perfis dos neoaliados. “Marina reduz a capacidade de diálogo de Campos com o empresariado, e ele aniquila a sedução dela pela promessa do novo”, diz um petista.

Porteira Já Aécio vai investir em atrair os representantes do agronegócio, que vinham conversando com o pré-candidato do PSB, mas agora ficam órfãos diante da parceria com Marina.

*Cizânia( Pesquisa do instituto Ideia para o PSDB fechada no dia 2, com 3.000 entrevistas, reforçou no partido a aposta de que haverá pressão pela troca de posições de chapa no PSB. Dilma Rousseff tem 38%, Marina, 20%, Aécio, 17%, e Campos, 5,5%.

Carburador Fernando Haddad (PT) pretende anunciar nesta semana o encerramento do contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a Controlar, responsável pela inspeção veicular na cidade, depois de longa disputa administrativa com a empresa.

Cofre Haddad recebeu na semana passada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a notícia de que a Câmara deve votar ainda em outubro a renegociação das dívidas de Estados e municípios.

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TIROTEIO

Aécio é o grande perdedor com a decisão de Marina. Resta saber a reação na Rede, que pode ser contrária à decisão imperial dela.

DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU (PT), réu no mensalão, que publicou em seu blog, em abril, post que dizia que Marina podia ser vice em chapa de oposição.

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CONTRAPONTO

No longo discurso que fez no sábado para justificar sua decisão de se filiar ao PSB, Marina Silva, além de criticar a decisão do TSE, que, segundo ela, tornou a Rede o “primeiro partido clandestino” pós-democratização, ironizou a ideia de que deveria se manter fora dos partidos e da disputa eleitoral para conservar a “pureza” política.

–Muitos achavam que eu deveria ser a madre Teresa de Calcutá da política. Mas escolhi assumir posição.

Outros a queriam como “a candidata da internet”:

–Todo mundo ia curtir, e muita gente ia me cutucar! –brincou, arrancando risos na plateia.

Com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

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Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno ‘Poder’ e repórter especial.