E-mails obtidos pelo Ministério Público da Suíça revelam que a multinacional francesa Alstom usou lobistas, suspeitos de intermediar o pagamento de propina a funcionários do governo de São Paulo, para aproximar a empresa de autoridades e obter contratos com o Metrô e a CPTM.

Propina era “investimento”, de acordo com uma mensagem trocada entre executivos da Alstom em abril de 2004. A avaliação foi de que esse investimento foi “lucrativo” para a Alstom da França “sob muitos aspectos”.

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Segundo um dos e-mails trocados por executivos da Alstom e enviados ao Ministério Público no Brasil, o reaproveitamento de contratos antigos “demandou um lobby muito forte e específico para resgatar a credibilidade necessária em face do Metrô de São Paulo e das autoridades estaduais de São Paulo”.

A mensagem relata que houve uma decisão administrativa de contratar “agentes” para esses projetos por meio da Alstom francesa.

A comunição suíça enviada ao Brasil relata que o e-mail menciona o contrato assinado pela Alstom com a Gantown, empresa controlada por Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira com sede no Uruguai. Eles são os lobistas contratados pela Alstom e fizeram depósitos de US$ 836 mil (R$ 1,84 milhão) na conta de João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM. Para os suíços, trata-se de suborno.

Ontem, o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que um ex-presidente da Alstom, José Luiz Alquéres, recomendou em e-mail de novembro de 2004 a contratação do lobista Arthur Teixeira para obter negócios com o Estado.

Ao incentivar seus executivos a buscar negóciois no governo, Alquéres cita na mensagem o governador Geraldo Alckmin e o então prefeito José Serra, ambos do PSDB. Alckmin e Serra negam relações ilícitas com a Alstom. Alquéres disse àFolha que a Alstom nunca pagou propina em sua gestão.

Sefundo Alquéres relata no e-mail, os tucanos teriam participado das negociações que levaram à reabertura da unidade que era da Mafersa na Lapa (zona oeste) como uma fábrica da Alstom.

À época, a Alstom buscava transformar sua unidade de transporte num negócio de porte e enfrentava dificuldades. Nos oito primeiros meses de 2004, só 11% das metas haviam sido alcançadas. Os e-mails da multinacional francesa citam dois negócios que depois foram fechados com o Metrô e a CPTM.

Um dos alvos do lobby foi a venda de 12 trens para a CPTM por R$ 223 milhões, em 2005. O negócio foi assinado no dia 28 de dezembro daquele ano. Para que a compra fosse feita sem nova licitação, a diretoria da CPTM retomou um contrato de 1995 que tinha acabado. A operação foi considerada irregular pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado).

As suspeitas de irregularidades nessa contratação levaram o Ministério Público a apresentar uma ação de improbidade contra o presidente da CPTM à época, Mario Bandeira, e outros então diretores da companhia.

Em 2007, o Metrô comprou 16 trens da Alstom por cerca de R$ 609 milhões usando um contrato de 1992. Não foi a Alstom que ganhou a concorrência original, mas a Mafersa.

 Editoria de Arte/Folhapress