Como parte do inquérito em que apura as denúncias sobre a espionagem estatal americana no Brasil, a Polícia Federal pediu o interrogatório, fora do país, do ex-agente da CIA Edward Snowden –que revelou o caso à imprensa e atualmente está exilado na Rússia– e dos presidentes mundiais das empresas Yahoo, Microsoft, Google, Facebook e Apple.
A informação é do “Jornal da Globo”, a partir de documentos sobre a investigação, que começou em julho deste ano.
Segundo a reportagem do telejornal, agora, o pedido dos interrogatórios será enviado ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
A premissa de colher depoimentos fora do país é permitida, ainda de acordo com a reportagem, graças a um acordo bilateral com os Estados Unidos de cooperação jurídica internacional.
Segundo o colunista do UOL Josias de Souza, o delegado Luiz Augusto, responsável pela investigação, também requisitou informações à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e ao Ministério de Ciência e Tecnologia. A intenção é conhecer atéque ponto o Brasil está vulnerável à ação do esquema de espionagem dos EUA. A resposta deve sair até semana que vem.
Ainda segundo o colunista, PF já inquiriu, ao longo do mês de setembro, os executivos brasileiros da Yahoo, Microsoft, Google, Apple e Facebook. Todos negaram envolvimento no caso.
Em reportagem no mês passado, o programa “Fantástico”, da “TV Globo”, revelou que, além da presidente Dilma Rousseff, a NSA, (agência de segurança dos Estados Unidos), espionou, entre outros alvos, a Petrobras e o Ministério das Minas e Energia.
A revelação de que a presidente Dilma foi alvo de grampo dos EUA causou um mal-estar diplomático entre os países. Na ocasião do encontro do G20, em setembro, na Rússia, Dilma se reuniu com o presidente dos EUA, Barack Obama e cobrou explicações detalhadas da suposta espionagem.
Na mesma época, a presidente chegou a cancelar uma viagem oficial ao país, em uma medida incomum nas relações entre os dois países.
Brasil é “o grande alvo”
Os documentos revelados na reportagem do “Fantástico” são de uma apresentação da NSA para novos agentes, realizada em junho de 2012. Nela, a agência explica como é feita a espionagem a determinadas empresas e órgãos.
A Petrobras aparece logo no início da apresentação, junto com a infraestrutura do Google, a diplomacia francesa e a rede da Swift, cooperativa que reúne alguns dos principais bancos de dezenas de países. Os nomes de outras instituições espionadas foram apagados na mesma apresentação da NSA.
Em entrevista ao UOL, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que trouxe à tona os documentos secretos obtidos por Edward Snowden, disse que o Brasil é “o grande alvo” de espionagem da inteligência americana.
A apresentação mostra ainda que foi criada uma pasta com o nome da Petrobras, em função da grande quantidade de informações que a NSA dispõe, o que indica que a estatal está sendo espionada há algum tempo. Os documentos não mostram o conteúdo que teria sido espionado.
A espionagem foi feita na rede privada de computadores da Petrobras, que contém informações sigilosas sobre a estatal, a maior empresa do país, com faturamento anual superior a R$ 281 bilhões.
Líder mundial na exploração de petróleo em águas profundas, a Petrobras possui dois supercomputadores utilizado para pesquisas sísmicas. Os equipamentos foram usados no mapeamento do pré-sal, por exemplo.
A invasão da rede da estatal pode beneficiar, por exemplo, empresas americanas interessadas no leilão do pré-sal, maior leilão de petróleo da história do país, que deve ocorrer nos próximos meses. As interceptações ilegais podem colocar os detentores das informações em situação de vantagem nos leilões.
Em outro documento a NSA indica que a espionagem tem motivação econômica, política e diplomática, contrariando o que a agência dizia até então, que a motivação era combater o terrorismo.
O conteúdo das interceptações seria repassado à Casa Branca, à diplomacia dos EUA e ao serviço secreto norte-americano.
De acordo com a reportagem, os documentos da NSA que indicam ter havido espionagem da Petrobras são ultrassecretos, e as informações só podem ser compartilhadas com os líderes de quatr países aliados dos Estados Unidos: Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Os documentos obtidos pela reportagem mostram ainda que a agência inglesa de segurança, a GCHQ, também teria praticado espionagem ilegal.