É difícil de se concentrar durante a aula. De todos os lados vêm sons de tiros. Uma criança chora, uma senhora busca seus óculos, mas o professor não se importa. Ele dá sequência ao seu curso: contraterrorismo para turistas.

Folha participou de um treinamento de duas horas nas montanhas de Gush Etzion, um assentamento israelense na periferia de Jerusalém. Por R$ 250, a reportagem aprendeu a identificar um terrorista e, manejando um fuzil, acertá-lo na cabeça.

O exercício, com um quê militar, é organizado por uma academia israelense. Ali, treinam também desde seguranças de shopping a agentes do serviço secreto.

“Mas o que é contraterrorismo?”, pergunta um dos instrutores -ex-membro das forças especiais israelenses- a seus 21 alunos. Uma criança responde que são “pessoas que odeiam a gente”. Uma mulher completa que “é quem quer nos assustar”.

A turma da qual a reportagem participou era formada por duas famílias americanas a passeio em Israel. Entre os 21 alunos, além do repórter e do fotógrafo, havia seis crianças e oito mulheres.

A não ser pelos garotos mais jovens, na faixa dos sete anos de idade, as demais crianças foram tratadas como alunos regulares, o que significa que elas seguraram pistolas e dispararam contra alvos usando munição letal.

“Fazemos isso para que as crianças conheçam o que nos ameaça”, diz uma mãe. Os turistas não quiseram revelar seus nomes. Outra mãe comentava quão “fofo” era seu filho com a arma, tentando acertar o seu alvo.

O discurso durante todo o curso, tanto pelos professores quanto pelos alunos, é de “nós” contra “eles”. Os exemplos de situação de contraterrorismo eram, em geral, na linha de “um terrorista chega à sinagoga e…”.

“Eu não conheço vocês, mas receberia um tiro por qualquer um aqui”, diz um dos responsáveis pelo treinamento. “Não porque eu goste de vocês, mas porque são judeus precisando de ajuda.”

A academia de tiro diz que é “uma firma profissional, sem uma proposta política”, segundo o diretor Sharon Gat. Os alunos não são escolhidos segundo sua religião.

Os professores mostram, em um cartaz, um árabe conversando ao telefone. Eles dizem aos alunos que só devem atirar nos muçulmanos empunhando armas. “Esse cara não gosta da gente, mas só atacamos quem quer nos ferir”, explica um treinador.

Mas, na hora de demonstrar um ataque terrorista, os professores gritam “Allah akbar” (Deus é maior, em árabe, trecho comum em orações islâmicas) antes de simular um ataque a uma das crianças. O garoto, de cerca de dez anos, é protegido por um treinador, enquanto todos os demais atiram nos alvos.

O curso, voltado a turistas, tem por intuito apenas reforçar as informações básicas, e não serve para porte de arma. Todos os estudantes são alertados para os perigos, ao que uma senhora comenta estar assustada -“é tão fácil atirar, não sabia”.

Uma das famílias está em Israel devido à cerimônia de “bar mitzvá” de um dos garotos, um ritual religioso realizado entre judeus aos 13 anos. “Quisemos fazer uma viagem diferente.”

“Contraterrorismo é um modo de vida”, afirma um professor, durante o resumo do curso. “Nunca estou sem a minha arma. Meus filhos não me conhecem sem ela.”