O prefeito Fernando Haddad (PT) disse hoje que os auditores da prefeitura suspeitos de corrupção tentaram desviar o foco da investigação. Segundo ele, uma escuta feita pela Controladoria Geral do Município, que descobriu o esquema, mostrava os suspeitos dizendo que usavam a sala do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). A investigação apontou, porém, que a informação não é verdadeira, segundo o prefeito.

Em entrevista à rádio CBN, Haddad disse que “é preciso olhar com muita atenção para tudo que se diz porque a quadrilha estava sob pressão intensa. Obviamente vão querer atrapalhar e tirar o foco do que é relevante”, afirmou.

O grupo investigado por participar do esquema utilizava um escritório localizado próximo da prefeitura. Uma das salas usadas pelo bando é do empresário Marco Aurélio Garcia, que será convocado pelo Ministério Público para explicar por que cedeu um escritório que funcionava como QG do grupo de fiscais.

Marco Aurélio é irmão de Rodrigo Garcia, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do governo Geraldo Alckmin (PSDB) e foi um dos aliados mais próximos do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Entre 2008 e 2010, Rodrigo ocupou a secretaria de Gestão de Kassab, com quem rompeu depois.

O prefeito voltou a afirmar que descarta investigar a participação de Antonio Donato, secretário de Governo de Haddad, no esquema de cobrar propina de empresas para reduzir o valor do ISS. Segundo o prefeito, não há indício de que ele tenha participado das fraudes. O prefeito também afirmou que Donato colaborou com as investigações.

O nome do secretário foi citado em escuta telefônica na qual a ex-companheira de um dos acusados pelo esquema ameaça revelar uma suposta doação eleitoral de R$ 200 mil ao petista. Ele nega.

CONSTRUTORAS
Em entrevista à CBN, Haddad disse que as 15 construtoras suspeitas de pagar propina serão ouvidas nos próximos dias. Segundo ele, elas são “suspeitas de se beneficiar do esquema”.

“Vamos tentar identificar se os empresários foram chantageados ou não. Se sim, eles tinham o caminho de procurar o poder público, o Ministério Público, a polícia para denunciar a chantagem e evitar o achaque. Se não fez isso, errou”, comenta.

Segundo Haddad, as empresas que deixaram de pagar os tributos terão de quitar a dívida com a prefeitura. Ele diz que será calculado com multa e juros.

Além de cobrar o imposto que não foi pago, ele disse que o patrimônio do grupo é de pelo menos R$ 80 milhões e que todos os bens foram bloqueados.

“Até o final do processo os bens serão bloqueados e o município poderá se apropriar com o ressarcimento dos prejuízos causados”, afirmou sobre os servidores que atuaram na cúpula da Secretaria Municipal da Finanças entre 2006 e 2012. A estimativa é que o bando desviou R$ 500 milhões dos cofres públicos. Na semana passada, quatro auditores foram presos – um deles foi solto pois aceitou colaborar com as investigações.

PENTE-FINO

Haddad ressaltou que a Controladoria Geral do Município, criada pela sua gestão em março deste ano, está fazendo um pente-fino em todas as secretarias e subprefeituras cruzando o patrimônio declarado com o apurado. “Estamos fazendo o cruzamento de informações de cartórios da Receita Federal e de bancos para identificar os poucos e maus servidores”, diz.

Segundo ele, além do caso da Secretaria das Finanças, o órgão já identificou nichos de irregularidades nas Secretarias do Verde e Meio Ambiente, da Habitação, das Subprefeituras e do Trabalho. “É uma minoria que desorna o serviço público”, disse.