No caso do Mário é nítido que todos nós testemunhamos que é por mérito.
Quando o Campus Experimental da UNESP foi confirmado em nossa cidade, eu me lembro da festa que foi feita, das comemorações, dos preparativos, da esperança de investimentos, na expectativa e na angústia dos que viriam pra cá.
Era um período de muita instabilidade política, com formação de vários grupos políticos com divergências idealísticas e uma desconfiança absurda seja de quem fosse.
Fui eleito vereador pela 1ª vez neste contexto e a UNESP foi alocada num dos prédios da FUNDEC, que da mesma forma, passava por uma transição administrativa muito traumática para o município.
Neste contexto político, o senhor junto com o Paulo, seu braço direito como sempre fez questão de dizer publicamente, vieram liderar a instalação do Campus.
Vocês tiveram um excelente relacionamento com o ex-prefeito Stelato, mas ainda tinham que conquistar outros tantos em dúvida com questões que não estavam tão claras ainda.
Quando o convênio Estado-Município chegou nesta Casa para sua renovação, mesmo com riscos políticos futuros, boa parte dos vereadores da época estava propensos a não autorizar. Então, a Comissão de Finanças, formada pelos vereadores Juliano (presidente), Schmidt (vice) e Pedro (membro), resolveram convocá-los para uma reunião da qual participaram 5 dos 9 vereadores da época. Além destes, os ex-vereadores Lupércio e Gustavo (Mu).
Reunião de mais de 2 h. onde todas as dúvidas foram extraídas, as contas foram explanadas, os benefícios foram expostos e onde pela 1ª vez nos encontramos. Não sei se o senhor se lembra da nossa conversa final. Eu me lembro.
O senhor disse: “Mais alguma dúvida?”
Respondi: “Mário, sou unespiano de formação e não vou, neste momento complicado, colocar o meu nome e da instituição que me formou em qualquer barca. Estou satisfeito com o que vi, li e escutei. Mas que garantia tenho de futuro?”
O senhor olhou pra mim, de certa forma assustado e me disse: “Não sabia que era unespiano. Estou contente. Só tenho uma garantia pra te dar: o meu nome.”
Declarei: “Então serei o 1º a lhe defender.” Convênio renovado por unanimidade.
Voltamos a nos encontrar na assinatura da escritura de doação de todo o terreno que compreende o Campus da UNESP. Neste momento, o senhor havia sido reeleito como coordenador do Campus de Dracena, um novo Prefeito fora eleito (Célio Rejani) e eu eleito Presidente da Câmara.
Autoridades presentes no salão nobre do Campus, de vários grupos políticos da cidade e o senhor fez um belíssimo relato das conquistas que haviam sido feitas que se concretizavam àquele momento.
Fez questão de agradecer nominalmente a muitos. Politicamente falando, aos vereadores, ao ex-prefeito Stelato, ao prefeito Rejani e ao Dep. Alguz.
Durante sua fala externou o trabalho de bastidores que faziam para trazer para o Campus um segundo curso: Engenharia Agronômica. Contou-nos episódios de reuniões com o Reitor Herman, hoje S. E. Educação, com o Dep. Reinaldo e, principalmente, a dificuldade de convencer os membros do Conselho de Diretores da UNESP, de que Dracena teria potencial para abrigar este curso.
Descendo as escadas do Campus lhe perguntei: “Já entendemos que a briga política é de ‘cachorro grande’. O que a Câmara poderia fazer para ajudar?”
“Vocês já estão ajudando com o apoio incondicional que nos deram até agora.”
“E se propusermos um Título de Cidadão ao Reitor. Ajudaria?” – disse a ele.
Parou nas escadas, com os olhos brilhantes e disse: “Nossa!!!!! Você faria isso?”
“Não só eu, mas a Câmara fará.” – respondi
E assim se fez. Um título essencialmente político, aprovado por unanimidade.
Num 3º momento, nos encontramos, à convite do senhor, para uma cerimônia simples, onde estavam presentes somente autoridades e imprensa. Todos estavam ansiosos, pois o convite foi de última hora.
“Quero anunciar a todos que o curso de Agronomia, foi autorizado pelo Conselho para o Campus de Dracena”
A alegria foi geral. E continuou: “Faço questão de agradecer a todos que nos ajudaram durante este trajeto histórico e nominar a alguns: o dep. Edson Aparecido, o ex-prefeito Stelato, o prefeito Rejani, aos vereadores e ao dep. Reinaldo Alguz.”
Fez também o seguinte relato: “Estamos entre autoridades e estou me ambientando com a política, mas o que vi o Sr. Dep. Reinaldo Alguz fazer eu nunca havia presenciado. Não sou político. Sou professor. Mas eu presenciei este senhor colocar o seu mandato em check para que este curso pudesse vir pra Dracena. Só temos o curso de Agronomia por causa do Dep. Reinaldo Alguz.”
Num 4º momento, da platéia o vi discursar, na formatura da UNATI/2012.
O senhor estava extremamente emocionado. Relatou, sua passagem por aqui e terminou dizendo: “Não sou dracenense, mas hoje me considero dracenense. Vou embora sentido por deixar tantos amigos, mas cumprindo meu dever.”
Neste instante, minha mulher se virou pra mim e disse: “Vocês já concederam tantos títulos de cidadãos e nunca pensaram no Mário?”. Não tive dúvida, propus. Quero ler um texto e espero que todos entendam meu paralelo depois.
“Nas análises das fibras musculares, foram utilizados … animais por tratamento e na avaliação de desempenho e características de carcaça, foram utilizados todos os animais. Em relação a ganho de peso diário, rendimentos de carcaça e cortes cárneos, área do músculo longissimus dorsi e proteínas e lipídeos totais na carne, não houve diferença entre os grupos genéticos… A maciez da carne não variou entre os grupos genéticos… A semelhança da maciez da carne … permite que o tempo de maturação das carnes seja reduzido, quando se utiliza animais jovens.”
Este é um recorte de um texto fruto de uma pesquisa de professores da UNESP do qual o professor Doutor Mário de Beni Arrigoni participou e foi publicado na Revista de Pesq. Agrop. Bras. Vol. 39 n. 10 – Brasília, 2004, com o título “Desempenho, fibras musculares e carne de bovinos jovens de três grupos genéticos”.
Fazendo o paralelo, o senhor analisou as fibras musculares políticas de extrema resistência e profundidade nestes últimos anos. Avaliou seus desempenhos e características. Os fez ganhar peso e desenvoltura, cada qual em sua ação. Não fez diferença entre os grupos genéticos políticos. Pelo contrário, sempre os valorizou, independente de seus posicionamentos. E finalizou que a maciez da carne era semelhante e sua maturação, independente do tempo, era a melhor.
O senhor colocou na mesma mesa, três grupos políticos distintos, sem questioná-los, sem menosprezá-los, sempre valorizando o que cada um tinha de melhor.
O título de cidadão é por mérito. Mas sua habilidade política é inegável.
Parabéns, Mário de Beni Arrigoni.
Texto: professor Juliano Brito Bertolini (PTC), vereador dracenense.