A onda de ataques a ônibus tem preocupado motoristas e cobradores da Grande São Paulo. No último dia 29, os ônibus da linha 6014 (Terminal Jardim Jacira-Terminal Santo Amaro), na zona sul da capital paulista, chegaram a ser recolhidos após a queima de um veículo na estrada do M’Boi Mirim, no Jardim Capela, região do Jardim Ângela.
“Nunca sofri ameaça, mas colegas nossos já sofreram. Nossa segurança dentro do carro é zero. Às vezes, passa uma viatura, mas aqui mesmo [no Terminal Jardim Jacira, em Itapecerica da Serra, Grande São Paulo] é um deserto”, afirma o motorista Edson Pereira, que trabalha há cinco meses na linha 6014. “A gente sai de casa com medo. E fica assustado com qualquer coisa que vê”.
Pereira vem de uma experiência traumática. Por quatro anos, enfrentou uma rotina de assaltos como motorista de caminhão. “Quando eu trabalhava com caminhão, fui assaltado muitas vezes com revólver na cara. Fazia entrega, e a carga era roubada”, relata Pereira.
O Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo tem acompanhado casos de profissionais que pediram afastamento do trabalho depois de presenciarem ataques.
Rutílio José, diretor do sindicato, diz que pelo menos três trabalhadores pediram afastamento na garagem M’Boi Mirim da empresa VIP, que opera a linha 6014. Alguns profissionais são encaminhados a psicólogos.
Depois dos ataques da última semana, a Polícia Militar reforçou a segurança nos bairros do entorno da estrada do M’Boi Mirim. Esse reforço garantiu a volta dos ônibus da linha 6014 ainda na noite da quarta passada.
Os motivos para os ataques são variados. Houve protestos contra enchentes, por exemplo, mas uma grande parte dos casos está relacionada a assassinatos supostamente cometidos por policiais.
Foi assim no Jardim Capela na semana passada. A morte de um jovem de 19 anos teria levado moradores a incendiar ônibus. “Teve um menino morto na região. Foi um protesto deles. Não sei o que a empresa de ônibus tem a ver com isso”, diz o cobrador Anderson Camargo dos Santos.
O mesmo grupo teria atacado outros três ônibus no dia anterior na região. Segundo motoristas e cobradores, a ação dos manifestantes tem sido rápida. “Simplesmente, chegam, param o ônibus e mandam todo mundo descer. Jogam uma garrafinha de gasolina dentro do carro, riscam um fósforo e saem correndo”, descreve o sindicalista Rutílio José.
“Qualquer coisa está servindo de motivo para isso agora”, declara Pereira. “Isso deixa a frota desfalcada. Fica faltando carro. Quem paga é quem não tem nada a ver com esses movimentos, é o trabalhador comum”, afirma José.