O que a escalação da seleção brasileira de futebol tem a ver com as eleições de 2014 no Brasil? Diferentemente de muitos países e tradições, futebol e política se permutam nas discussões do cotidiano dos brasileiros. Afinal, definitivamente somos um País com alguns milhões de técnicos de futebol e experts em política, contrariando as teses de que algumas dessas habilidades são essencialmente vocacionadas.
Nos últimos dias, futebol e política dividiram espaços dos debates devido à relação direta que tem sido atribuída entre a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a vitória do Brasil na Copa. Talvez essa relação aparentemente infundada esconda dois fatores que de fato deveriam ser analisados nesse ano de eleições: o que o governo de Dilma tem promovido e qual são as propostas dos candidatos de oposição.
Não há dúvidas de que o governo de Dilma Rousseff tem tido avanços, mas principalmente ao que se refere às políticas de continuidade dos Programas Bolsa Família, Luz Para Todos, Prouni, Reuni e Fies. Além disso, segundo uma pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha, os índices de aprovação do governo de Dilma têm se igualado aos patamares do governo de Itamar Franco, sendo superiores aos de Lula – costumeiramente mencionado como comparação de alta popularidade. Contudo, o retorno da infrutífera campanha “Volta Lula” acabou evidenciando algumas falhas do governo de Dilma, tais como a ausência de um marco político próprio e a persistência em uma imagem de burocrata pouco cativante.
Por outro lado, a escalação dos presidenciáveis apresenta uma amorfa oposição composta pela dobradinha entre “Marina-Campos” e ACM Neto – todos antigos protagonistas de políticas dos governos do PT. Desse modo, adia-se para o período de campanhas eleitorais a definição de forças e espaços entre os candidatos da oposição, visando estratégias que tenham o alcance de um segundo turno.
Por fim, a relação entre futebol e política não é apenas oportunismo pela recém-convocação da seleção para a Copa, mas uma maneira de não adiarmos o debate sobre as eleições para após o Mundial. Afinal, a expressão do futebol “em time que está ganhando não se mexe” não se materializa na esfera política.
*é cientista social, mestre e doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos