MATÉRIA EM VÍDEO

Imagens exclusivas mostram a ação da Polícia Militar que resultou na morte de um rapaz na periferia de São Paulo. A polícia diz, no boletim de ocorrência, diz que ele teria reagido à prisão e ameaçado os PMs com uma arma, mas o vídeo feito por uma testemunha mostra o homem sem nada nas mãos. A ação foi registrada há quase 20 dias. Agora, a família quer que os policiais também sejam investigados.

O vídeo gravado com um celular deixou a família da vítima cheia de dúvidas. As imagens mostram o rapaz sendo abordado por um policial e tentando escapar da prisão. Segundo o BO, o rapaz estava em um carro roubado e, na fuga, teria sacado uma arma e atirado contra os policiais, mas as imagens desse vídeo não mostram isso.

Tudo aconteceu no bairro do Grajaú, na Zona Sul da capital. No dia 12 de maio, a polícia estava perseguindo um carro roubado. Na fuga, o motorista bateu no portão de uma casa e três homens que estavam no carro saíram correndo.

O soldado Uilian Lougati e o cabo Marco Túlio Prates, que estavam na operação, disseram no boletim de ocorrência que prenderam um suspeito. Outro fugiu e um terceiro, Natanael da Conceição, teria resistido à prisão. Foi baleado e morreu.

A família de Natanael, que tem medo de aparecer, acha ele foi executado pelos policiais. “A gente não acredita na versão oficial. A gente tem várias informações, mas tudo desencontrada. A gente quer saber o que realmente aconteceu. A verdade”.

A dúvida surgiu depois que a família recebeu um vídeo, feito com um celular. Nele, Natanael aparece tentando escapar de um dos policiais. O PM manda Natanel encostar na parede. O rapaz ainda tenta escapar. As imagens mostram que ele não tem nada nas mãos. Na sequência, aparece o policial com uma arma. Ele tenta cercar Natanael, que corre de novo. Em seguida, ouve-se um barulho, parecido com tiro. A pessoa que está filmando corre, entra em um lugar escuro. É quando dá para ouvir outro estampido.

O vídeo foi gravado na rua. Segundo testemunhas, Natanael a todo momento oferecia as mãos para que fosse levado preso. Essas mesmas testemunhas dizem que ele tinha medo de ser morto.

“Ele desceu aqui correndo. Foi na hora que ele correu, o policial deu tiro na perna para ele poder parar de correr, só que ele parou de correr, o policial, parou, ficou segurando ele na viela, falando que ia matar ele”, conta.

No BO, os policiais disseram que Neguinho, que seria o apelido de Natanael, lutou com o soldado Lougati. Foi quando o cabo Túlio chegou e também mandou Natanael se entregar. O rapaz teria sacado uma arma. Para se proteger, os policiais dispararam oito tiros contra ele. O cabo Túlio deu três, e Lougati, cinco.

A testemunha afirma que Natanael estava desarmado. “Em momento algum, nenhum, estava armado”, afirma.

Ela conta que Natanael chegou a usá-la como escudo, e que ela também foi ameaçada. “Ele falava: ‘Amiga, não sai daqui. Pelo amor de Deus amiga, ele vai me matar, ele não quer me prender, ele quer me matar’. O policial começava a me chamar de Zé Povinha, falando que se eu não saísse ele ia me matar também, que ele não ia deixar testemunha”, conta.

Ela diz que viu o policial executar Natanael, chegou a guardar uma cápsula de bala e conta que os PMs teriam mudado a cena do crime. “Os policiais pegaram um lençol do varal do morador, colocaram ele e começaram a mandar os moradores a arrastar o corpo. Teve um que com medo, arrastou e tirou da frente da casa dele e arrastou até a entrada da viela”, lembra.

A família espera que o vídeo contribua para as investigações. “Meu primo foi assassinado. Ele era uma pessoa que tinha família, que tinha filhos, tinha pessoas que o amavam e que queriam ele mesmo com defeito presente na vida da gente. E eles tiraram isso da gente”, lamenta.

A Polícia Militar de São Paulo foi procurada pela reportagem do Bom Dia Brasil, mas não quis comentar o caso. Em nota, a PM informou que vai analisar o vídeo para depois se posicionar.
A nota também diz que a PM não admite desvios de conduta de seus homens e que todos os casos são rigorosamente apurados e investigados quando há fundamento.