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Imagens gravadas por uma câmera de segurança de um posto de combustível deFrederico Westphalen, no Norte do Rio Grande do Sul, mostram os últimos momentos do garoto Bernardo Boldrini, de 11 anos, antes de ser morto. O menino aparece no vídeo deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz, no dia 4 de abril deste ano, data da morte do menino. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

O vídeo registra Graciele chegando em uma caminhonete preta, às 13h57 de sexta-feira (4). Ela para o carro e acena para Edelvânia, que está aguardando na calçada. A madrasta desce com Bernardo e encontra a amiga. Os três seguem até o veículo prata da assistente social. O carro sai e, conforme as investigações da polícia, segue até o local onde o garoto foi morto e enterrado.

Quase duas horas depois, às 15h42, o mesmo veículo prata retorna a Frederico Westphalen. As duas voltam para o posto de combustível. As imagens mostram a madrasta e a amiga conversando, lado a lado por alguns minutos, sem Bernardo. Edelvânia se despede e atravessa para o outro lado da rua. Graciele entra na caminhonete e vai embora.

Foi com base nessas imagens que a polícia desmentiu a primeira versão contada pela madrasta, de que o menino teria retornado com ela para Três Passos e sumido depois de ir para casa de um amigo. O vídeo foi decisivo para as investigações da Polícia Civil, porque mostra a madrasta chegando com Bernardo ao local e retornando sem ele, esclarecendo também a participação de Edelvânia no caso, que dias depois revelou o local onde o garoto foi enterrado.

O menino foi encontrado morto no dia 14 de abril, enterrado em um matagal em Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde morava com o pai, a madrasta e a meia-irmã. Ele estava desaparecido desde 4 de abril.

Prisão preventiva decretada
Nesta terça-feira (13), o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) decretou a prisão preventiva dos três indiciados pela Polícia Civil pela morte o menino Bernardo Boldrini, de 11 anos. O pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini e a assistente social Edelvania Wirganovicz continuarão presos.

A decisão é do juiz Marcos Luís Agostini, da Comarca de Três Passos, que também levantou o sigilo do processo. Os três estavam em prisão temporária, e o prazo de 30 dias expiraria à meia-noite de quarta-feira (14). Assim, a decisão de Agostini manteve o trio na prisão.

Já Evandro Wirganovicz, irmão da assistente social, cujo carro foi visto próximo ao local onde o corpo foi enterrado um dia antes do assassinato, não foi apontado pela polícia como autor do crime. Ele foi preso temporariamente no último sábado (10) e sua possível participação ainda é investigada.

O pedido havia sido feito pela Polícia Civil, e obteve um parecer favorável do Ministério Público. Em seu parecer, a Promotora de Justiça Dinamárcia Maciel numerou três fundamentos: a garantia da ordem pública, a importância para a conveniência da instrução criminal e o risco à aplicação da lei penal.

Por meio da assessoria de imprensa, o MP informou que o órgão deve oferecer denúncias contra os indiciados até sexta-feira (16), antes do prazo legal estabelecido de cinco dias. Na ocasião, a promotora Dinamárcia Maciel vai detalhar o caso em uma entrevista coletiva. O acompanhamento direto da promotora junto à Polícia Civil agilizou os procedimentos da investigação.

Entrevista coletiva Três Passos, RS, Caso Bernardo (Foto: Estêvão Pires/G1)Entrevista coletiva foi concedida em Três Passos
(Foto: Estêvão Pires/G1)

Receita é prova do crime, diz polícia
A investigação apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolam em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune.

A principal prova é o auto da necropsia, a análise toxicológica, que comprova a presença do medicamento Midazolam no corpo do menino. Já as provas documentais, segundo a polícia, comprovam a aquisição de notas fiscais e receituais do remédio, da soda cáustica, além do testemunho da compra das ferramentas. Ao todo, foram colhidos mais de 100 depoimentos, que informam a desarmonia familiar e o descaso do pai e da madrasta com Bernardo.

O inquérito apresenta também interceptações telefônicas indicando acerto entre os autores para que Leandro fosse inocentado, já após a prisão. Outra prova destacada pelas delegadas responsáveis pelo caso é a gravação de um vídeo que mostra as duas suspeitas retornando de Frederico Westphalen, sem Bernardo, e na sequência o descarte de objetos relacionados ao crime.

As qualificadoras do homicídio citadas no indiciamento são: “mediante pagamento ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima”, conforme a polícia. Eles também responderão por ocultação de cadáver.

Indiciamentos
Leandro Boldrini: atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolan em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune.

Graciele Ugulini: mentora e executadora do delito de homicídio, bem como da ocultação do cadáver.

Edelvânia Wirganovicz: executora do delito de homicídio e da ocultação do cadáver.

Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.

No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

“O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada”, relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.

O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.