Já está ocorrendo um grande evento esportivo no País. E o mundo se (e nós) questiona qual é o legado que a Copa do Mundo deixará para o Brasil.  Penso, então, que este é um momento para refletir sobre a herança ambiental a que teremos direito.
Parafraseando o Comitê Olímpico Internacional, legado é um assunto complexo, pois muitos dos benefícios podem demorar alguns anos para se tornarem visíveis, principalmente, porque eles dependem do apoio contínuo das autoridades locais.  Neste sentido, devemos analisar mais amiúde a questão do lixo, do descarte e da reciclagem e aprender e ensinar aos nossos jovens, por meio de ações que deram certo.
Em Londres, em 2012, uma comissão independente foi criada para monitorar e avaliar publicamente os esforços de sustentabilidade. A “Comissão para uma Londres Sustentável 2012” permitiu que mais de 98% dos resíduos de demolição fossem reciclados e que 62% dos resíduos dos jogos fossem reutilizados, reciclados ou compostados.
Em 2006, na Copa da Alemanha, a FIFA lançou o Green Goal da FIFA World Cup ™ 2006. E desde então, os países sede, e a FIFA, vem adotando medidas para reduzir os danos ambientais. Em 2010, a FIFA investiu EUR 400.000 em um projeto de compensação de carbono na África do Sul para a eletricidade a partir de gás de esgoto na Sebokeng Township, Gauteng.
As doze cidades brasileiras escolhidas para sediar a Copa de 2014 e suas regiões metropolitanas são responsáveis pela produção de 35% dos resíduos sólidos urbanos do País, algo em torno de 91 mil toneladas de lixo geradas por dia. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que o Brasil irá gerar em torno de 320 toneladas de lixo nos 64 jogos do mundial.  Para lidar com esse material, mais de 800 pessoas estão sendo capacitadas, pela Coca-Cola em parceria com a FIFA, com o objetivo de coletar e encaminhar esse resíduo para uma central de triagem nos estádios.  Os telões deverão passar mensagens de orientação e os estádios deverão adotar lixeiras de policarbonato transparente nas cores verde (para resíduos recicláveis) e cinza (para resíduos não recicláveis), atendendo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010.
Além disso, algumas prefeituras sedes já estão se preparando para uma maior coleta seletiva no entorno dos estádios e várias empresas foram contratadas para promover a reciclagem do resíduo da construção civil.  
Deixando de lado as denúncias de construtoras que estão jogando os entulhos em áreas de preservação ambiental (Arena Pantanal) e o impasse sobre o entulho deixado no entorno de alguns estádios (Beira Rio), é preciso reconhecer a importância dessas ações para o país. Implementar uma cultura de reciclagem, de destinação adequada dos resíduos e, principalmente, de redução do consumo/descarte é de grande importância para o desenvolvimento sustentável no país.
É importante que a geração atual, e futura, se conscientize dos altos custos envolvidos no nosso modelo de consumo.  Custos ambientais, que tem como resultado o sacrifício de nossa biodiversidade ocasionada, sobretudo, pela utilização de recursos não renováveis e pela contaminação do ar, solo, rios e mares e pelo excesso.  Os espaços destinados a disposição final do lixo são caros e estão cada vez mais escassos, precisamos, então, economizar na geração de lixo.
Finalmente, deve-se considerar, ainda, que além dos estádios, outras regiões estarão sendo visitadas por milhares de turistas.  Ficando assim, sujeitas a uma maior geração de resíduos.  Resta saber, então, se estas medidas estão sendo previstas para estas outras regiões.  Além disso, o evento deverá durar em torno de um mês, e estas ações não podem se limitar apenas esse período de tempo.
Nosso legado deve ser a mudança de comportamento, a implementação de uma cultura de respeito ao meio ambiente e ao próximo, a redução do lixo, a logística reversa e as políticas de reciclagem como algo duradouro, e não apenas um evento pontual. Se realmente quisermos deixar uma herança da copa para o país, mais do que um título devemos deixar exemplos de uma boa educação. Mais do que um povo simpático, teremos que ser um povo composto por cidadãos.
 
*professora de administração com foco em sustentabilidade.