A estrutura da sociedade contemporânea baseia-se no acúmulo constante de privilégios, necessários ou não, com o intuito do indivíduo elevar-se em relação ao outro. À medida que viver é competir, possuir bens materiais se sobrepõe aos prazeres naturais do ser humano.

Atualmente, observa-se uma crise cultural de valores quando pessoas se guiam pelo paradigma de mercado. A senilidade, por exemplo, está perdendo espaço na sociedade que valoriza a produção de quem é economicamente ativo. O sentimento de respeito e fraternidade é desvalorizado uma vez que houve a mercantilização das relações sociais – atribuiu-se a pessoas valores de mercado.
Por isso matrimônios também perdem seu significado quando pessoas se casam com outras devido ao dinheiro e aos prazeres que podem conseguir. Já no século XIX, Machado de Assis retratou tal fato social em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, em que a personagem Virgília se casa com Lobo Neves pelo prestígio social que obteria, embora tivesse sentimentos pelo narrador Brás Cubas.
Assim, para todas as gerações que viveram após a Revolução Industrial, o modo de vida se faz atendendo às ambições capitalistas: produção em massa, tecnologia, produtos quaisquer no mercado, propaganda e consumo, ou melhor, consumismo. A felicidade é procurada no ter em vez de no ser e a posse contínua de bens materiais é o que alivia as pessoas das dores cotidianas.
Enfrentam-se trânsito, trabalho e estudos para no final do mês receber uma recompensa que possibilite o consumo. Constantemente visamos ao acúmulo de bens materiais, tecnologia e informação que nos atualiza diante da sociedade. Alienados pela lógica de mercado, aproximamo-nos da fórmula “suma ciência x suma potência = suma felicidade” de Jacinto, personagem de “A cidade e as Serras”, de Eça de Queirós.
A obra de um século atrás retrata em uma personagem o que se vê acontecer com boa parte da população mundial. O materialismo guia as pessoas alienadas pelo capitalismo, porém, assim como aconteceu com Jacinto, podemos atingir um meio termo entre o ter e o ser, renunciando aos excessos mundanos.

*aluna do 3º ano do Ensino Médio e do Laboratório de Redação do Colégio Objetivo de Dracena.