O governo petista não aproveitou os anos de crescimento econômico e inflação baixa para fazer reformas fundamentais como a tributária e a política. Quando tudo caminhava bem na área econômica seria o momento para começar a tocar adiante novas rodadas de mudanças essenciais para o desenvolvimento do país, mas o encantamento pelos elevados índices de popularidade falou mais alto e nada foi feito. A impressão é que o governo acreditou que tudo caminharia de vento em popa a partir de então.

Entre 2003 e 2010 a economia brasileira cresceu em média 4% ao ano, a inflação manteve-se sob controle, o desemprego caiu pela metade e o consumo das famílias cresceu e sustentou a produção em patamar elevado. Na área externa, a forte demanda chinesa valorizou produtos importantes na pauta de exportações do país, como soja e minério de ferro, e ajudou a manter a economia em ritmo forte.
A partir de 2011 a atividade econômica começou a se deteriorar. O crescimento médio caiu e este ano haverá retração superior a 1% no PIB, a inflação acelerou e se aproxima dos 10% e o desemprego está crescendo fortemente. Os índices de confiança do consumidor e das empresas caem de modo expressivo.
A forte queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff em tão pouco tempo caiu como uma bomba no PT. Boa parte dessa situação se deve ao ajuste fiscal adotado no começo do ano e à descoberta de esquemas de corrupção como o da Petrobrás. Há também uma dose crescente de insatisfação resultante do quadro ruim da economia. A avaliação negativa do governo é uma das maiores da história, chegando a 68%.
Governar virou uma emergência depois que a credibilidade da presidente começou a se esfarelar. Hoje há uma espécie de terceirização do governo através do poder dado ao ministro Joaquim Levy e a entrega da articulação política ao vice-presidente da República Michel Temer.
Se tivesse feito uma reforma política, que se arrasta há quinze anos no Congresso, tendo como diretrizes o fim dos políticos profissionais e o desmantelamento das organizações criminosas incrustadas no governo, a endemia da corrupção estaria sendo combatida no país.
Por sua vez, se tivesse feito uma reforma tributária que pudesse reduzir custos para a classe média e as empresas, nos moldes do imposto único, projeto que está parado há treze anos na Câmara dos Deputados, a economia estaria em melhores condições, crescendo de modo sustentado, com inflação reduzida e contas externas sob controle.
O momento atual serve de lição. Reformas fundamentais foram empurradas com a barriga durante a bonança econômica entre 2003 e 2010. O comodismo da atual gestão foi um erro crasso e agora a sociedade paga um preço alto por conta disso. Se elas tivessem ocorrido lá trás o País não estaria em situação calamitosa.

* é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal e autor do projeto do Imposto Único.