O Theatro Municipal do Rio recebe na tarde desta segunda-feira (20) a cerimônia de premiação da 10ª Olímpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), com a presença do matemático Artur Ávila, o brasileiro vencedor da Medalha Fields, considerada o “Nobel da Matemática”. No total, participaram 18 milhões de estudantes: 6.500 ganharam medalha e 46.200, uma menção honrosa. Neste último grupo estão 37 adolescentes que cumpriam medida socioeducativa no Brasil. O G1 conversou com um deles, A. T. S., ex-interno da Fundação Casa, em São Paulo.
O adolescente parou os estudos ainda no ensino fundamental para trabalhar. Durante o período em que ficou internado, em uma unidade na Zona Sul da Capital, ele voltou a ter aulas e concluiu o primeiro ano do ensino médio. Sem ter aulas preparatórias para a Obmep, o jovem teve a nota mais alta da unidade – no total 542 internos da fundação chegaram à segunda fase do torneio.
“Eu fiquei feliz [quando soube da menção honrosa]. Foi um passo muito grande para mim ter conseguido terminar a prova. Tentei fazer a prova com tudo o que eu aprendi aqui dentro”, conta o jovem.
O gosto por fazer cálculos, porém, não se estende às regras do português. “Eu fiz a olímpiada de português, mas não passei. Eu gosto mesmo é de educação física e matemática. Das outras matérias eu não gosto muito, não. Prefiro fazer contas, pensar. A matemática faz a gente pensar muito e eu consigo raciocinar.”
Volta às aulas
De acordo com a pedagoga Kátia Martins de Aguiar, que há tres anos trabalha na Fundação Casa, a olimpíada é uma forma de medir o desenvolvimento do aluno e de motivá-lo. “Essas competições são um incentivo, é muito bom para eles. Proporciona a procura de um sentido, de reconhecer o próprio potencial. Faz com que eles possam se apoiar nos estudos e ver que este é o caminho”, afirma.
Filho de uma doméstica e sem contato com o pai, A. pretende mudar sua vida para crescer junto com a namorada e a filha de quase dois anos. “Quero crescer na vida, ser alguém, dar orgulho para a minha mãe, família, minha filhinha.”
Defasagem escolar
Segundo balanço da Fundação casa, 9.965 adolescentes cumprem medida socioeducativa em 148 centros no estado de São Paulo
Para Aguiar, a defasagem escolar é muito comum entre os adolescentes que são internados. “Eles não frequentaram a escola, se evadiram, e aqui dentro acontece a escola. Estes adolescentes têm que amadurecer e pensar no porquê estão aqui. Eles não podem simplesmente passar por aqui, tem que haver uma reflexão e devem evoluir aqui dentro”, afirma a pedagoga, que ressalta que a mudança é um processo lento.
“O meu trabalho é de plantar sementinhas. Demora, mas quando eu vejo um resultado como esse me encorajo a seguir em frente.”
Obmep 2014
Mais 18 milhões de alunos de 46.698 escolas do país todo se inscreveram na 10ª Obmep. Para participar, os estudantes devem estar matriculados da 6ª a 9ª série do ensino fundamental e nos três anos do ensino médio de escolas públicas. Alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) também podem participar.
Os 6.500 jovens com maiores pontuações na segunda fase da Olimpíada receberão medalhas. Segundo a Obmep, são 501 de ouro, 1.500 de prata e 4.500 de bronze.
Os medalhistas também receberão bolsas de iniciação científica e poderão se candidatar ao Programa de Iniciação Científica e de Mestrado (PICME), quando estiverem matriculados no ensino superior. Além disso, 46.200 participantes receberão também certificados de menção honrosa. Os professores, as instituições de ensino e as secretarias municipais de educação também receberão prêmios.