Dois núcleos ou oito? 1 GB ou 4 GB? 1,5 GHz ou 2,8 GHz? Se você olhar apenas para números, vai notar uma superioridade óbvia no ecossistema de aparelhos tops de linha do Android (e Windows também, embora não haja um top de linha novo da Microsoft em mais de um ano) em comparação com os iPhones. Mas quem realmente entende do assunto, sabe que os números contam apenas uma parte da história. Não acredita? Tente jogar algum game pesado no iPhone 6 e em um Galaxy S6. Você dificilmente vai perceber diferença.

Começando por um ponto: não é tão simples comparar um chip Snapdragon, da Qualcomm, por exemplo, com um A8, da Apple. Ambos têm suas próprias complexidades, e reduzi-las em números de núcleos e velocidade do clock geralmente é uma forma de simplificar todo o poder de processamento de ambos. Há vários outros fatores envolvidos.

Entre o que deve ser considerado inclui a largura de banda de memória, latência e a capacidade de executar threads do jeito mais eficiente possível. Tudo isso resulta em um IPC alto, o número de instruções por ciclo que o chip é capaz de realizar. Quanto maior o IPC, melhor é o processador, e os chips da Apple tem um IPC bem alto. O número de núcleos e a frequência do processador são só alguns dos fatores que influenciam neste resultado.

Isso dito, não é tecnologicamente aceitável comparar um A8 com um Snapdragon 410, presente em aparelhos como o novo Moto G, só porque a velocidade do clock é similar, na casa dos 1,4 GHz. Muito menos é aceitável dizer que o chip da Qualcomm é superior por ter quatro núcleos quanto o chip da Apple tem apenas dois.

É bastante difícil fazer uma análise no papel dos processadores da Apple, porque a empresa divulga muito poucas informações técnicas de seus chips, focando-se apenas em informar anualmente a melhoria percentual em comparação com o modelo do ano anterior. O que se tem notícia, segundo os benchmarks do site especializado AnandTech, é que com seus dois núcleos, o A8 não deixa a desejar em nada aos chips com múltiplos núcleos. Você pode conferir em detalhes neste link. De forma geral, os chips da Apple se saem muito bem em single-thread, que faz mais diferença em ações mais comuns, contra um melhor multi-thread nos chips da Qualcomm.

Não confunda as coisas: o A8 é um system-on-chip de altíssimo desempenho, comparável aos tops que fazem uso de muito mais “cores” e “gigahertz”. Também é importante observar que isso não significa que o A8 seja melhor que o Snapdragon 805 (lançados aproximadamente na mesma época), mas são definitivamente diferentes.

Memória RAM

Depois de muitos anos se espera que a Apple dobre a memória RAM do iPhone, o que já foi feito no iPad Air 2. Quando todos os concorrentes Android já estão batendo na casa dos 4 GB, o aparelho da Apple está chegando aos 2 GB. Novamente, isso não significa muita coisa.

Novamente, é necessário olhar a diferença entre o que é o Android e o que é o iOS. No primeiro caso, o gerenciamento da memória RAM é feito com um processo chamado “garbage collection”, que pode ser traduzido para coleta de lixo em português. Quando um aplicativo é fechado, a reciclagem da memória requer até quatro vezes mais RAM do que era utilizado pelo app quando aberto. Assim, aparelhos que não tenham a quantidade mínima aceitável de pelo menos 2 GB são mais propensos a travamentos.

Já o iOS não tem isso. Este processo intermediário não existe, agilizando o processo. Assim, mesmo com 1 GB de RAM, muito menos do que a concorrência, ele consegue se virar bem.