Com graus diferentes de desenvolvimento, os maiores países emergentes, chamados Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm em comum desafios como controlar a qualidade do nível superior de ensino e fazer com que a pesquisa tenha efeitos mais práticos na vida da sociedade. Questões como essas estão sendo discutidas até quarta-feira no seminário Políticas para Educação Superior em Países em Desenvolvimento, organizado, no Rio, pela Academia Brasileira de Ciências e pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iest).
Simon Schwartzman, conselheiro do instituto, disse que o Brasil e os demais países do Brics têm experiências muito diferentes e precisam encontrar soluções distintas para os problemas, que, apesar disso, têm muito em comum. “A China se destaca muito, porque toda a educação superior tem crescido muito, e os outros países não conseguem acompanhar. Mas todos têm dificuldades com o controle da qualidade”, afirmou. “Como você faz a pesquisa ter um impacto social e econômico mais relevante? O Brasil tem feito um esforço nesse sentido, e não tem avançado muito”.
A professora do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, Elizabeth Balbachesky, acredita que o Brasil tem um ponto positivo na comparação com os demais Brics. “O Brasil sai bem na foto, basicamente porque temos um sistema que tem bastante informação”, destacou, apontando que outros países não levantam informações sobre o ensino privado e até sobre a totalidade das instituições públicas.
Elizabeth disse que o foco das políticas de estimulo à publicação científica leva os pesquisadores a procurar revistas mais genéricas e menos especializadas, o que reduz a visibilidade do que é produzido no país. “Não é que seja de menor qualidade, é que tem mais dificuldade em ter o impacto que poderia”.
Já o professor da Universidade do Cairo, o pesquisador egípcio Mohsen Elmahdy Said, disse que os países do Brics e também o Egito precisam aumentar o número de pessoas que procuram cursos de exatas, como engenharia. Em todo o mundo, segundo sua pesquisa, a média é que entre 20% e 30% dos estudantes universitários sejam de áreas tecnológicas, o que, nos países em desenvolvimento, se torna uma “fraqueza”:
“Isso se agrava porque o nosso mercado de trabalho é limitado e muitas das oportunidades disponíveis requerem pessoas de áreas tecnológicas, para trabalhar nas obras de infraestrutura e na indústria”, disse ele, que reconheceu a importância dos cursos de humanas: “O ponto é que não há trabalho suficiente para eles. Temos que redistribuir”.
Para Simon Schwartzman, a proporção de alunos de humanas não é um problema no Brasil, diferentemente de países como o Egito e Índia. “No Brasil, mesmo que a pessoa não trabalhe na área em que se formou, ela consegue trabalhar e tem um emprego melhor por ter nível superior. O nível de desemprego é mais baixo”.