As eleições presidenciais estadunidenses se aproximam. Entre os principais candidatos, o republicano Donald Trump declara que, caso eleito, reforçará as relações entre Estados Unidos e Israel. Mas não demorou muito na campanha eleitoral para que sua desinformação sobre o Oriente Médio como um todo viesse à tona.

Alguns especialistas já citam motivos pelos quais a eleição de Donald Trump não será favorável para Israel e demais países do Oriente Médio. Trump tem sido criticado por sua falta de know-how no que tange à política externa para a região. Em entrevistas ele não conseguiu diferenciar o Hezbollah (grupo político e militar libanês) e o Hamas (grupo de origem palestina de ideologia sunita), por exemplo.
Além disso, Donald Trump utiliza estereótipos tanto para se referir a árabes quanto a judeus. Ele alega que possui proximidade com o judaísmo (sua filha, Ivanka Trump, se converteu ao judaísmo em seu casamento), mas fez declarações antissemitas ao falar com a Coalizão Judaica Republicana em dezembro de 2015. Ele disse que a comunidade judaica estadunidense deveria apoiá-lo porque ele não teria interesse no dinheiro deles.
Regularmente Trump cita as políticas israelenses atuais, que já dividem a comunidade judaica americana, como sendo bem-sucedidas e aplicáveis aos Estados Unidos. Ele se refere o polêmico muro que divide Israel e Palestina como um exemplo para que os Estados Unidos separem-se do México. Além disso, o candidato tem apelado repetidamente para a expulsão das famílias de “terroristas”, a exemplo da política israelense de demolir casas de supostos terroristas. Muitos críticos de Trump o acusam de explorar atos realizados pelo Estado Islâmico e o medo do terrorismo para intensificar um movimento anti-islâmico e conseguir apoio. Como presidente, Trump distanciaria aliados no mundo árabe, como os Emirados Árabes Unidos.
Historicamente, os líderes estadunidenses que melhor têm servido aos interesses de Israel foram movidos por motivações ideológicas. Harry S. Truman (1945 – 1953), por exemplo, reconheceu a independência de Israel pela fé cristã e profunda crença na difusão dos valores universais. Todo o apoio econômico que os Estados Unidos fornecem a Israel é também baseado em imperativos ideológicos e filosóficos, com uma dose de pragmatismo, além do lobby exercido por Israel. Todavia, Donald Trump não tem mostrado fundamentos ideológicos que assegurem apoia a Israel em tempos difíceis. O destino de Israel, em termos de sua dependência militar e estratégica dos EUA, estaria sujeito a uma espécie de oportunismo errático baseado em caprichos de Trump. Ele está disposto a deixar Putin mediar os acordos de paz entre Israel e Palestina. Ele lamenta a queda de Saddam Hussein indicando que ele aceitaria o status quo da ocupação de Israel e a falta de negociação com os palestinos. Dessa forma, seus discursos mostram o quão pouco está realmente disposto a investir na paz e na democracia em Israel e na Palestina.
Karina Stange Calandrin é pesquisadora do Gedes, Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, oferecido em conjunto pela Unesp, Unicamp e PUC-SP.