Em recente matéria publicada pela BBC Brasil, onde há referência ao artigo “A Grande Traição”, do jornal britânico The Economist, admite-se que “o fracasso brasileiro, não é atribuído somente à presidente” ou ao partido que ela representa, mas a “toda classe política por meio de um combinado de negligências e corrupção”.
Contudo, segundo a BBC Brasil, há esperança de mudanças “especialmente aquelas voltadas ao cumprimento da lei. A prova disso é o escândalo na Petrobrás, que ‘tem aprisionado alguns dos políticos e empresários mais poderosos do país’”.
E, realmente, é o que se espera, um judiciário capaz de educar nossos políticos, fazendo a lei valer a todos, doa a quem doer. Mas, por outro lado, não podemos esquecer que estes políticos foram eleitos por força do voto e essas atitudes podem ter reflexo direto na nossa sociedade contemporânea.
Para ilustrar melhor este pensamento, cito uma experiência social feita pelo apresentador Nilson Fagata: a ideia foi de abordar aleatoriamente alguém na rua para dar a opinião sobre algum assunto polêmico.
Assim que a opinião era externada, o entrevistador pedia para desligar a câmera. Neste ínterim, era oferecido dinheiro para que o entrevistado mudasse de opinião. A maioria aceitou a proposta. Nesse contexto, parece não haver diferenças entre estas pessoas e os políticos corruptos.
Como resolver tal situação?! A educação continuará sendo a solução. Não faltam exemplos do poder transformador desta. Um deles é o Japão que, segundo o site blog.suri-emu.co.jp, carrega “virtudes como confiança, integridade e honestidade (…) emanados desde a tenra idade, fazendo parte da educação desse povo, há gerações.”
Essas virtudes são refletidas nas Mujin-Hanbai. “São barraquinhas de vendas sem atendentes. O comprador escolhe um produto e paga por consciência própria”.
No Brasil há iniciativas parecidas, por exemplo, na Universidade Tecnológica do Paraná, de Cornélio Procópio, onde o professor de engenharia André Luis Shiguemoto fez um experimento conhecido como “teste do picolé”: a ideia é colocar picolés à venda, sem atendentes ou vigilância. Os clientes têm acesso irrestrito aos sorvetes e pagam apenas se a consciência mandar.
De tempo em tempo o dinheiro e os sorvetes são contados. O interessante é que o índice de calote foi relativamente pequeno, algo em torno de 2,5%. Entretanto, os alunos entrevistados se dizem insatisfeitos com os resultados e pretendem buscar maior conscientização sobre cidadania e ética, pois, quem se vale da oportunidade para desviar o valor de um sorvete hoje, poderá desviar milhões futuramente.
Recentemente, na 15ª Expo Internacional de Umuarama aplicou-se a mesma experiência social, contudo, o resultado foi bem diferente do prof. Shiguemoto: 60% dos clientes não pagaram, inclusive, alguns desses, literalmente, encheram os bolsos de sorvetes.
Os experimentos provam que as reflexões sobre cidadania e ética, precisam de mais força. Ser ampliadas, levadas para as associações, para mais escolas e universidades.
A educação é fundamental, mas enquanto esta não é colocada em pauta, nos resta depositar nossas esperanças no poder judiciário brasileiro e desejar que este – doa a quem doer – coloque todos políticos suspeitos sob o rigor da lei.
*é consultor de empresas, professor executivo/colunista da FGV/ABS (Fundação Getúlio Vargas/América Business School) de Presidente Prudente.