Circula pela internet um video explicando porque o suposto escândalo da carne bovina do Brasil é uma armação dos EUA para derrubar as exportações brasileiras, hoje lideres mundiais, uma repetição do que teriam feito com as exportações de café industrializado do Brasil algumas décadas passadas.

Custa acreditar que o festival de besteiras de tal video tenha o patroíinio da Friboi, uma das empresas denunciadas no escândalo e cujo logo aparece como pano de fundo do tal video. Seria incompetência ao nível nuclear. Assim como é colocar alguém vestido de Mazaropipara dar credibilidade às afirmações…mas como no Brasil e neste mundo tudo é possível…
Aos fatos do Café. O Brasil é o maior exportador de café em grão do mundo, mas é um pequeno ‘player’ na exportação de café solúvel e moído – apenas 8.5% do valor total. Este mercado é realmente dominado pelo cartel das “4 Irmãs” onde a suiça Nestlé é a maior seguida da Kraft General Foods (Maxwell House), Procter & Gamble (Folgers) e Sara Lee (Hills Brothers) americanas.Algumas tem até investimentos no Brasil como a Holandesa DouweEgberts (unida com a Sara Lee) que comprou o Café Pelé e já era dona do Café Pilão.
Resumindo – o Brasil não exporta café industrializado por alguns motivos:
1.Mercado interno pulverizado em pequenas torrefadoras que não tem interesse ou capacidade para competir no exterior
2. O Brasil tem insuficiência do tipo de café conilon, o mais usado no solúvel e também torrado
3. Existem barreiras tarifárias nos EUA, União Européia e Japão em favor de nações mais subdesenvolvidas principalmente africanas ou nossos concorrentes da América do Sul e Central na campanha anti-drogasalem do favorecimento Japonês para as emergentes da Asia – especialmente o Vietnã.
A doença ferrugem – que devastou os cafezais brasileiros nas décadas de 70 e 80, é originária da Ásia e atacou também plantações na África, Ásia e Austrália. No Brasil a Embrapa tem tido sucesso em controlar a doença. No auge da infestação no Brasil, o preço do café saltou para quase US$ 350 por saca o que tornou a bebida mais tomada pelos americanos bem cara e mexendo com inflação deles. Depois em 1980 recuou para abaixo do $150onde permanece até hoje. A doença não é americana e na Bolsa de Mercadorias, a commodity Coffeeteóricamente não sofre manipulação de nenhum país isolado. Seria um escândalo como o da Prata nos anos 70 com Lamar Hunt.
Nenhuma empresa no mundo, nem a Starbucks – a maior rede varejista de café com quase 25 mil lojas – vende o café brasileiro como de outro país – e não existe café Boliviano de relevância… mas sim Colombiano, de melhor qualidade assim como de alguns países africanos – o café especialidade, tendência global atual.
Aos fatos da Carne Bovina:
1. O Brasil quase não exporta carne industrializada – apenas 7.5% do volume total por isso a Friboi comprou frigoríficos nos EUA para processar carne in-natura do Brasil cujas exportações representam 77% do volume total, ficando o resto para miudos e salgadas.
2. Os maiores concorrentes do Brasil na exportação de carne in-natura não são os EUA, mas sim a Austrália que exporta inclusive em pé(vivos) para o Japão e China e a Irlanda que vende para a U.Européia e a Inglaterra toda sua exportação que é menos de 1/3 da brasileira.
3. Realmente a carne brasileira incomoda no mercado internacional pois somos o maior exportador mundial (a Índia exporta carne de búfalo), mas o incômodo fica por conta dos países europeus e a Austrália. Se a exportação brasileira sofrer uma parada total, o mercado ficará desabastecido pois representa 20% de toda exportação mundial e nem a Austrália ou Irlanda tem capacidade de cobrir esta queda na oferta a curto prazo, elevando o preço da commodity.
4. Realmente se ficarem comprovadas que as falcatruas são estatísticamente representativas (atualmente menos de 1%) inclusive para o mercado externo (menos de 0,5%) a carne brasileira sofrerá uma queda de preço para conseguir ser exportada.
5. Vale lembrar que dos 10 paises com maior importação de carne do Brasil, 3 efetuam aqui a matança e controlam a qualidade do produto no Brasil antes da exportação. – Egito, Irã e Arábia Saudita alem de Israel.
6. Infelizmente o controle de sanidade no Brasil é lamentável e existe muito ‘olho fechado’ da Inspeção para que os pequenos frigoríficos possam sobreviver na concorrência com os grandes. Um exemplo é o controle de animais sacrificados quanto a Brucelose que não é feito pois o exame é demorado e caro. Assim quando nas fazendas as fêmeas dão positivo para a Brucelose são regularmente enviadas para abate. O consumo destas carnes não causa probema de transmissão se forem fervidas, fritas ou assadas. Se o consumo for crua sem preparo, a brucela se transfere para as pessoas, doença que pode ser combatida com antibióticos, uma vez feito o exame e descoberto (evitar Kibecrú e Carpaccio no Brasil é bom senso!)
7. Enquanto isso animais com Febre Aftosa que não é transmissivel aos humanos são abatidos nas fazendas e enterrados, não podendo ser comercializados…
8. Nossas fronteiras principalmente com o Paraguai são uma baba… passa tudo inclusive gado sem controle sanitário do lado de lá para cá, criado mais barato lá e vendido mais caro aqui – de desmama, boi magro até boi gordo… com frigoríficos alí mesmo na fronteira do nosso lado. O último surto de Aftosa no Brasil veio justamente do Paraguai.
9. Os maiores prejudicados no consumo de carne bovina, suína e avícola duvidosa são os consumidores brasileiros, pois assim como no café os melhores produtos, com melhor controle e qualidade são sempre exportados para não se arriscar a perder mercado internacional o que não acontece internamente.
Infelizmente o consumidor nacional é um trouxa de carteirinha quando se trata de alimentos : o frango é pesado congelado, os embutidos com água, a troca de carnes é comum (picanha então recebe tudo … ponta de alcatra principalmente) e a recente oligopolização do mercado por obra e objetivo do PT, Lula e seus filhos que acabou com a concorrência dos pequenos frigoríficos só piorou a situação. Assim como na China, os alimentos produzidos por empresas locais são de controle de qualidade muito inferior aos das multinacionais. Leite aqui vem com formol, soda cáustica e agua oxigenada sem falar no soro de leite que chegou a ser o principal componente do Longa Vida de muitas empresas. Carne de jegue e cavalo comercializada junto com bovina, frangos com antibióticos e anabolizantes, tomates e melancias com agrotóxicos….e por aí afora. Não se tem notícia de Coca Cola, Leite Ninho, CornFlakes, Doriana, Sonho de Valsa, Danoninho ou Yakult entre outros, com problemas semelhantes. As multinacionais não podem se dar ao luxo de prejudicar a marca no mercado internacional. Já as brasileiras….
Concluindo, essa teoria da conspiração lulopetista que consegue colocar os EUA por detrás de tudo no Brasil, (lembram que o Moro quando foi para uma convenção em Harvard disseram que tinha ido conversar com a CIA e o FBI?) é uma baboseira idiota.
O Brasil enfrenta sim contenciosos com os EUA em comércio externo– no Algodão, na Celulose, no suco de Laranja e tempos atrás no Aço e no Etanol. Carnes, cereais e café nunca estiveram na pauta das reclamações brasileiras na OMC nem nas rodadas de Doha.
É tudo uma fantasia política esquerdista que apenas se esqueceu de mencionar também a presença do exército americano na Amazonia protegendo as empresas multinacionais de remédios que retiram toneladas de plantas medicinais brasileiras e mapeam as riquezas minerais da região – a mais comum das teorias da conspiração.
Se houveram erros de avaliação no conduzir dessa operação da PF se deve exclusivamente a agendas politicas domésticas e/ou falta de competência associada ao que se chama ‘complexo de John Wayne’: atira primeiro e depois pergunta quem é….

*Economista (USP), professor das Faculdades REGES