Quem acha que Brasília se resume a concreto e reuniões políticas, vai se surpreender com a programação do pré-carnaval que já tem agitado a capital federal. Neste fim de semana, pelo menos dezoito blocos sairão às ruas, segundo informações do Governo do Distrito Federal (GDF).

Sábado

Tem programação para todo gosto, expressando também a diversidade cultural que forma o Distrito Federal. Neste sábado (03), o tradicional “Galo Cego”, leva a batucada para passear no Setor Bancário Sul, das 14h às 21h.

Para amantes de escolas de samba, haverá, no mesmo horário, o “Grito da Liga dos Blocos Tradicionais”, na 302 Norte. A Liga existe desde 1997 e é formada pelos blocos Pacotão, Menino de Ceilândia, Asé Dudu, Mamãe Taguá, Raparigueiros, Baratona, Baratinha e Galinho de Brasília.

No bairro Cruzeiro, um encontro de blocos reunirá, Desodorante da Asa Gagá Vião, Toda Boa, Bate Bolas, Pipa Avoada, Cacique do Cruzeiro, Cachorrão e outras atrações, das 9h às 22h. Pela manhã, a festa será uma matinê dedicada às crianças.

Na Torre de TV, das 10h às 16h, um dos pontos centrais da capital federal, o “Comboio Percussivo” comemorará dez anos de elogio à cultura popular brasileira. Quem também está comemorando dez anos de agito é o Peleja. Na festa que combina improviso, bom humor e muita energia, vai ter samba, frevo, axé e marchinhas de carnaval. O Peleja ocorrerá na “Praça dos Prazeres”, das 16h às 23h. O local fica no Setor de Autarquias Norte, no início da Asa Norte.

Há ainda o “Fio Desencapado”, no Sudoeste, e o Pauta na Rua, formado por jornalistas que sairão às ruas do Setor de Indústrias Gráficas. Ambos foram criados em 2017 e comemorarão o segundo ano de folia entre 15h e 22h.

O carnaval de 2018 também abre espaço para novos blocos. É o caso do “Quem Chupou Vai Chupar Mais”, que fortalece a ocupação do Setor Comercial Sul, entre 16h e 23h, prometendo de axé clássico a funk. O brega também tem fez com o “Micareguará”, no Guará I, no mesmo horário. Até música eletrônica anima a Brasília carnavalesca. O “Bloco Intervensounds – Unidos do BPM”, no Conic, promete manter pickups a todo vapor com coletivos da música eletrônica de Brasília e São Paulo. Para terminar, tem o “Bloco Me Beija”, que realizará um sarau na quadra 114 da Asa Norte.

Domingo

Para uns, o domingo será de descanso depois de tantas folias. Já os mais resistentes ainda poderão aproveitar pelo menos cinco blocos. No Gama, tem o “Carnaval Pra Pular Gama”, das 15h às 22h, no Setor Central. O novo bloco conta com o fundador da escola de samba Mocidade do Gama, Paulo Roberto Bolinha. Das 12h às 18h, tem o “Sapeka-Aí”, no Núcleo Bandeirante, também com a pegada da bateria de samba.

“Encosta que ele cresce” ficará no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, a partir das 15h. “Falta Pouco” volta a fazer a “Praça dos Prazeres dançar”, entre 16h e 23h. Marchinhas, sambas, maxixes, frevos, maracatus e outros ritmos são prometidos.

No mesmo horário, no Setor Bancário Norte, a festa fica por conta do “Cafuçu do Cerrado”. “As raízes do Cafuçu do Cerrado estão firmes nas culturas carnavalescas da Paraíba e de Pernambuco (terras natais dos produtores do bloco), que têm como atrações principais as troças: orquestras de frevo, marchinhas de carnaval e tantas outras levadas típicas, e, claro, o que há de mais gostoso no universo da sofrência: o brega”, diz a divulgação oficial.

#FoliaComRespeito

“Se tem uma manifestação e uma linguagem que a sociedade participa é o carnaval”, afirma a jornalista e carnavalesca Jul Pagul. Ela comemora o fato do carnaval ser construído de baixo pra cima, pelo povo. “O povo dita quando vai sair, quem vai tocar, quando vai ser”, diz.

Se o ato de ocupar as ruas é também político, outras questões têm sobressaído neste carnaval, como o combate ao assédio. No Distrito Federal, foi lançada a campanha “Folia com Respeito”, que defende diversidade, respeito e mudanças culturais.

“Tem essa cultura de uma suposta autorização e um histórico crescente de alguns casos de violência, especialmente contra a população LGBT. Em 2017, tivemos espancamentos, coisas bastante graves, e houve insensibilidade do Estado para tratar disso. Já estávamos falando há três anos sobre a necessidade de tocar uma campanha, mas não foi feita. Então, surgiu essa campanha, que foi feita com uma velocidade incrível e colaborativamente”, afirma Jul.

Nas redes sociais, vídeos e fotos foram divulados o mote “tire o seu preconceito do caminho”. Diversas artes alertam sobre o respeito às mulheres e destacam a necessidade de consentimento. Outros indicam o uso de camisinha para a proteção da saúde.

Além da campanha, diversos blocos têm saído às ruas com bandeiras políticas, caso do bloco feminista “Vai com as profanas”, que se apresentou no fim de semana passado e volta às ruas no dia 11, em pleno carnaval. No bloco, travestis e transexuais dividiram espaço no palco com artistas e organizadoras e colocaram o Setor Comercial Sul, onde trabalham, para dançar.

“O que eu mais gosto do carnaval é esse exercício de criação política, criativa, de uma forma coletiva. Para mim, todo ano essa é uma época muito gratificante, porque diante de toda adversidade, a gente consegue colocar o bloco na rua”, diz a carnavalesca.

Para que o carnaval do Distrito Federal seja ainda maior e mais diverso, Jul Pagul defende melhor distribuição das verbas, que na sua opinião foram concentradas em poucos blocos, e mais planejamento. 

Segundo informações do Governo do Distrito Federal, foram investidos R$ 5 milhões do próprio governo e R$ 1,4 milhão por meio de acordo de patrocínio entre a Secretaria de Cultura e a Ambev para garantir a infraestrutura. A seleção dos blocos que receberam apoio foi feita por meio de edital, que direcionou o local de apresentação dos blocos e os ritmos que seriam contemplados.