O Avô paterno de Isabella Nardoni, o advogado Antonio Nardoni, disse ao G1 que ele e sua família também choram pela morte da menina. Nesta quinta-feira (29), o crime que chocou o país completa dez anos. “A perda não foi só para o lado da família materna”, diz Antonio. “As pessoas esquecem que a Isabella é também minha neta”.

Isabella foi encontrada morta em 29 de março de 2008, quando caiu da janela do sexto andar do Edifício London, na Zona Norte de São Paulo. Ela tinha 5 anos de idade na época. O pai de Isabella, Alexandre Nardoni, e a madrasta dela, Anna Carolina Jatobá, foram presos e condenados na Justiça pela morte da criança.

Antonio, pai de Alexandre e sogro de Jatobá, recorda com carinho a saudade de Isabella. “Eu lembro das conversas que nós tínhamos. A gente lembra e chora, não tem o que fazer. Porque a única coisa que eu nunca briguei para mudar é esse fato, o fato dela ter morrido, isso eu não vou conseguir mudar”.

A ‘briga’ de Antonio foi e continua sendo a de querer provar a todos, e principalmente à Justiça, que seu filho e a nora não mataram a pequena Isabella. O casal Alexandre e Jatobá sempre negou o assassinato.

“Tudo que foi feito lá atrás foi uma montagem. Estou tranquilo da inocência da minha nora e do meu filho. Sempre tive essa convicção”, diz Antonio, que ainda tem de lidar com o fato de ser investigado pela polícia, que apura se ele teve participação no crime.

“Eu sei que nunca faria isso. As pessoas não têm noção das coisas. Ela é minha neta”, rebate Antonio, que, após uma década, diz ainda não saber o que pode ter causado a morte de Isabella. “Eu não sei. Tem todo tipo de história. Tem gente que diz que foi um acidente…”

 

Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella, sempre negaram o crime, mas foram condenados (Foto: Reprodução/Arquivo/TV Globo)

Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella, sempre negaram o crime, mas foram condenados (Foto: Reprodução/Arquivo/TV Globo)

 

Nova investigação

 

Para a polícia, no entanto, a queda de Isabella não foi acidental, mas um homicídio intencional. Jatobá foi acusada de esganar a enteada após uma discussão. Alexandre, achando que a filha estivesse morta, cortou a rede de proteção da janela e a jogou para simular um acidente, tudo segundo o Ministério Público (MP).

Alexandre e Jatobá foram presos à época e acabaram condenados em 2010 pelo crime. Eles sempre alegaram inocência. Chegaram a dizer que algum invasor, não identificado, poderia ter matado Isabella. A investigação, porém, nunca o encontrou.

 

“Então na verdade, meu filho e minha nora foram condenados, como eu sempre disse há dez anos atrás, por uma produção de provas inexistente”, reforça Antonio.

 

Em 2015, Antonio passou a ser investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). A Promotoria determinou que fosse apurada a denúncia de duas ex-funcionáriasda Penitenciária de Tremembé, onde o casal Nardoni está preso.

 
 
 
 
Morte de Isabella Nardoni completa 10 anos

Morte de Isabella Nardoni completa 10 anos

Elas contaram ter ouvido Jatobá dizer que, na época do crime, havia telefonado para Antonio, dizendo que matou Isabella e que o sogro orientou o casal a simular um acidente doméstico. Alexandre então teria decidido jogar a filha pela janela.

Antonio já foi ouvido nesse inquérito, em março do ano passado, e negou o que as testemunhas disseram. O DHPP, porém, ainda não concluiu a investigação.

“Não tem nada no inquérito. Está lá há três anos. Tá indo para quatro. Ouviram, eu acho que 20 ou 30 pessoas. Ouviram todo mundo. Aparentemente elas [as ex-funcionárias] tentaram criar uma situação, não sei para prejudicar quem, e usaram meu nome, mas até onde eu sei, nunca aconteceu”, se defende.

“É uma coisa absurda, mas todo mundo na televisão diz o que quer, então não precisa provar nada, então fica tudo mundo fácil. Você destrói a vida de uma pessoa com duas palavras”, lamenta Antonio.

 

O consultor jurídico Alexandre Alves Nardoni (c) deixa o 9º Distrito Policial de São Paulo, na zona norte da capital paulista. Alexandre é pai da menina Isabella, de 5 anos, que morreu ao cair do sexto andar do prédio onde moram. Foto de 03/04/2008 (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo/Arquivo)

O consultor jurídico Alexandre Alves Nardoni (c) deixa o 9º Distrito Policial de São Paulo, na zona norte da capital paulista. Alexandre é pai da menina Isabella, de 5 anos, que morreu ao cair do sexto andar do prédio onde moram. Foto de 03/04/2008 (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo/Arquivo)

 

Casal Nardoni

 

A morte de Isabella e a condenação do filho e da nora têm tirado o sono de Antonio. “Para mim são dez anos de sofrimento”, diz. “A perda foi para todo mundo, inclusive pro casal porque, na verdade, o Alexandre estava com a Isabella todos os dias quase.”

De acordo com o avô de Isabella, a investigação se ateve exclusivamente a culpar o casal, deixando de checar outros suspeitos e demais pistas.

“Eu acho que as coisas foram mal conduzidas porque na verdade teriam que ter investigado melhor, teriam que ter, na verdade, um pouco mais de tempo. E a alegação dos policiais é de que a pressão da mídia era muito forte e eles tinham que terminar logo. E terminar logo era acusar o casal, como eu sempre disse”, lamenta Antonio. A polícia, porém, sempre sustentou que apurou todas as hipóteses.

Quando terminou o julgamento do casal Nardoni em 2010, algumas pessoas em frente ao Fórum de Santana soltaram rojões para comemorar a condenação de Alexandre e Jatobá. Para Antonio, a maior parte da opinião pública foi levada pela imprensa, que reproduzia o trabalho da polícia, a acreditar que seu filho e nora mataram Isabella.

 

“Acho que as pessoas têm o direito de pensar o que elas quiserem, mas a verdade é uma só: o casal não fez nada, o casal é inocente”.

 

 

‘Tristeza’

 

 
 
 
 
Mãe de Isabella Nardoni fala sobre os dez anos da morte da filha: 'Saudade'

Mãe de Isabella Nardoni fala sobre os dez anos da morte da filha: ‘Saudade’

A mãe de Isabella é uma das pessoas que acreditam que o casal Nardoni matou sua filha. No último dia 17, o G1 entrevistou Ana Oliveira, que se emocionou ao contar que “a gente aprende a lidar com a dor” da perda. Ela também respondeu que o caso é emblemático por causa da “maneira cruel como tudo aconteceu”.

“Sempre a respeitei e ela sempre me respeitou. E eu só tenho uma tristeza na minha vida: é ela falar que o casal foi cruel, que o casal fez isso, porque ela sabe: eles não fariam isso”, diz. “Ela sabe que Alexandre nunca deixaria ninguém machucar a minha neta. Ele sempre defendeu a Isabella, acima de qualquer coisa.”

Para Antonio, o caso Isabella Nardoni tem de ser reaberto porque ocorreram falhas na investigação.

 

“Não tem como não ser reaberto. Seria um absurdo. Primeiro absurdo foi a condenação da forma que foi, com laudos produzidos, com histórias falsas”.

 

Roberto Podval, advogado contratado por Antonio para defender o casal Nardoni, entrou neste mês com um pedido de redução da pena no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. O pai de Isabella foi condenado a 30 anos e dois meses de prisão enquanto a madrasta da menina teve como pena 26 anos e oito meses de cadeia.

G1 não conseguiu localizar Podval para comentar o assunto, mas soube que o advogado alegou ao STF que a repercussão do caso nos meios de comunicação e a comoção social por causa do crime à época levaram a Justiça a aplicar uma pena que ele considera exagerada.

Alexandre e Jatobá ainda trocam cartas, segundo pessoas próximas ao casal. Os dois filhos que tiveram antes da morte de Isabella os visitam nos dias permitidos na prisão. Recentemente a madrasta foi para o regime semiaberto e conseguiu o direito à saída temporária. Neste mês, ela passará o feriado de Páscoa em casa com a família, depois terá de voltar à cadeia.

 

Foto de 2016 mostra túmulo de Isabella Nardoni no Cemitério Parque dos Pinheiros, em São Paulo, recebendo visitantes.  (Foto: LUIZ GUARNIERI/AE/AE)

Foto de 2016 mostra túmulo de Isabella Nardoni no Cemitério Parque dos Pinheiros, em São Paulo, recebendo visitantes. (Foto: LUIZ GUARNIERI/AE/AE)

 

Apartamento e cemitério

 

O apartamento no prédio onde Isabella morreu foi vendido e é ocupado por outros moradores. Segundo Antonio ele também foi obrigado a se mudar da casa onde morava para evitar o assédio da imprensa. “Na verdade mudou tudo”, fala.

A exposição do caso o levou ainda a tomar medidas de segurança para proteger os familiares e netos. “Na verdade você não tem ideia do que é ter o sobrenome Nardoni hoje. É uma coisa complicada. As crianças sofrem, têm dificuldades para estudar, têm dificuldades para usar o sobrenome. Então a gente tem de protegê-las de uma forma absurda”, conta Antonio.

Mesmo dez anos depois, Antonio diz que ainda há preconceito com quem é um Nardoni.

 

“Tudo aquilo fez com que nós fossemos uma família de monstros. E na verdade nós somos pessoas normais”.

 

Para não ser hostilizada, a família paterna de Isabella evita até mesmo visitar o túmulo da menina em datas importantes, como a desta quinta-feira, quando pessoas devem levar flores em memória da garota no cemitério Parque dos Pinheiros, no Jaçanã, também na Zona Norte.

“Eu vou muitas vezes, assim, escondido, rapidamente. A gente procura não chamar a atenção. Nós não vamos nas datas comemorativas porque na verdade não é bom. Então a gente vai pouco, mas vai meio que escondido. É meio complicado”, lamenta Antonio.