O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, integra projeto de pesquisa que identificou pela primeira vez no Brasil a ocorrência de nematoide da espécie Melodogyne graminis em campo de golfe do município de Araras, interior paulista. Este nematoide ocorre nos campos de golfe dos Estados Unidos desde a década de 60, mas nunca havia sido identificado em algum dos 117 campos brasileiros. A pesquisa realizada em parceria com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp/ Botucatu) e Universidade de Coimbra, de Portugal, resultou em um artigo publicado na renomada revista internacional Plos One, em fevereiro de 2018, que pode ser acessado em http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0192397.

            Segundo o pesquisador do IB, Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira, esta espécie de nematoide parasita grama bermuda cv. Tifdwarf, usada na área chamada de green, a mais nobre do campo de golfe. “Os campos de golfe são enormes, com área de 50 hectares, aproximadamente, e têm por característica a perfeição do gramado. Existe uma área de 500 m², próximo aos buracos, que se chama green. É neste espaço que está o melhor gramado do campo, que precisa ser perfeito para que a bola deslize e caia no buraco. É justamente neste local que o nematoide ataca os campos americanos e o identificamos no Brasil”, explica.

            O nematoide cria manchas desuniformes e os danos causados por esses organismos podem interferir na qualidade do gramado, por meio da redução da tolerância à seca e da absorção de nutrientes, aumento de problemas com ervas daninhas, amarelecimento e secamento da parte aérea, prejudicando sua utilização para práticas esportivas. “Não existe, até o momento, tratamento químico para o controle do nematoide. Hoje, é necessário fazer a renovação por meio do plantio de um novo gramado. O IB tem desenvolvido trabalhos para tentar controlar este nematoide com agentes de controle biológico, ou seja, usando um inimigo natural dele, sem a necessidade de produto químico. Esperamos ter este tratamento em breve”, afirma.

            O estudo se iniciou em 2010. A ocorrência da espécie Melodogyne graminis foi identificada em um campo de golfe de Araras, por meio da utilização da chamada taxonomia integrativa e técnicas biomoleculares, realizadas no Laboratório de Nematologia da Unesp, em Botucatu, e do IB, em Campinas, resultando no trabalho de dissertação de mestrado da bióloga Samara Oliveira, sob orientação da professora da Unesp, Silvia Wilcken. Os pesquisadores agora trabalham na análise de outros campos de golfe do Brasil para identificar se o nematoide se espalhou pelo País.

“Os nematoides não voam e não andam, por isso, desconfiamos que eles tenham entrado no Brasil inadvertidamente por meio de material vegetal contaminado ou mesmo alguma sujeira nos sapatos ou equipamentos usados por jogadores no exterior e que vieram para o País”, explica Oliveira.

Essa espécie de nematoide é parasita exclusivo de gramíneas e não se desenvolve em outro tipo de planta. Recentemente, foi relatada causando danos em grama bermuda Tifdwarf em campo de golfe na Venezuela. De acordo com a Confederação Brasileira de Golfe, a prática do esporte tem crescido no Brasil. Há 15 anos, o País contava com 80 campos, hoje, são 117. No mesmo período, o número de golfistas praticantes dobrou e atualmente gira em torno de 20 mil – metade deles federados. 

“O Instituto Biológico é referência brasileira em pesquisas relacionadas à sanidade animal e vegetal e tem um trabalho muito importante para diagnóstico de pragas e doenças e transferência de conhecimento e tecnologias para todo o setor de produção, uma recomendação do governador Geraldo Alckmin”, afirma Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.