“Aí você se vê de volta para casa, sem barriga, o peito vazando leite, sem o bebê nos braços e com tudo pronto para recebê-lo”. Essa é a sensação resumida pela moradora de Bauru (SP), Daniele Bueno, quando voltou para casa após perder a filha Sofia uma semana antes de completar 8 meses de gestação.

Após a perda em 2018, a dona de casa, que é mãe de um menino de 12 anos, passou a lutar por mais informação e conscientização de todos envolvidos em casos como o dela, de perda gestacional, entre eles os familiares, amigos e, principalmente, os profissionais de saúde.

Para ela, há muito despreparo ainda sobre o assunto e falta acolhimento para mães que passam por essa situação.

“É um luto invisível. É como se não fosse válido o luto de uma criança que não nasceu. Mas a gente sabe que a gestação começa a partir do momento que você sabe que está grávida, você já começa a sonhar com aquilo”, desabafa.

Quando descobriu que a filha Sofia não tinha mais batimentos cardíacos e precisou passar todos os procedimentos da perda gestacional, Daniele se viu em uma situação que ela não imaginava viver naquele período da gestação, já no último trimestre.

“É como um ciclo que não se fecha. Você tinha uma barriga enorme, aí você volta para casa sem a barriga e sem o bebê. Você se olha no espelho e não se encontra”, completa.

Justamente para conscientizar sobre a importância desse tema que o dia 15 de outubro foi instituído como Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional e Infantil.

A luta principal dessas mães é que os serviços de saúde ofereçam um suporte, principalmente emocional, nesses casos.

Daniele tem um filho de 12 anos e esperava uma menina — Foto: Arquivo pessoal

Daniele tem um filho de 12 anos e esperava uma menina — Foto: Arquivo pessoal

Daniele conta que após o parto, que foi necessário por conta da idade gestacional já avançada, foi colocada em um setor fora da maternidade para que não ficasse no mesmo ambiente das mães e bebês recém-nascidos.

“Não existe um protocolo nos hospitais para esses casos. Só existem enfermeiros e médicos preparados para aquela gestação que deu 100% certo. Nós somos como um leproso, que tem que deixar escondido em algum lugar. Falta isso, um preparo da equipe médica para tratar a mãe enlutada. ”

Um projeto de lei chegou a tramitar na Câmara dos Deputados nesse sentido em 2018, mas foi arquivado em janeiro deste ano devido ao fim da legislatura da deputada que propôs a medida na época.