A forte alta do dólar em 2020 é notícia praticamente todo dia no Brasil. Mas até onde a subida repentina da moeda norte americana interfere no dia a dia do brasileiro? Em busca dessas respostas a equipe de reportagem do Jornal Regional entrou em contato com o economista José Marcos Tanganini.

Segundo ele, a subida do dólar pode ser benéfica em determinados setores da sociedade. “Quem trabalha com exportação, por exemplo. A alta do dólar muitas vezes serva para melhorar os rendimentos. A partir do momento que o dólar dispara, o lucro dos exportadores é maior”, disse ele, ressaltando que isso é bom pra economia em geral, não para a população em geral.

Tanganini disse que existem fatores importantes para o aumento visto recentemente. “Fatores externos, como as guerras econômicas da Rússia com a Arábia Saudita ou as fortes interferências no mercado internacional da China com os Estados Unidos. Fatores internos, como a política interna e a não aprovação rápida de determinadas pautas também interferem para essa subida”, disse ele.

Outro fator dos últimos dias foi o rápido avanço do coronavírus que interferiu na economia mundial. “A pandemia e a subida do dólar aqui são reflexos globais. Hoje o mundo é globalizado, então muitas viagens internacionais provocou esse avanço”, completou.

Reflexo no bolso

Tanganini ressaltou que a subida dólar interfere muito no preço de commodities importantes, como o trigo. “Normalmente quando o dólar sobe o primeiro reflexo notado é no preço do pãozinho, tão comum na mesa do brasileiro. O Brasil depende muito do trigo produzido fora do país, então importa muito. Essa importação é em dólar. Provavelmente que se o dólar se mantiver alto nos próximos dias, teremos a subida do preço dos produtos derivados do trigo”, enfatizou o economista.

Luis Alves, proprietário de uma padaria em Dracena reforça a fala do economista. Segundo ele, o Brasil consome em média 12 toneladas de trigo por ano. Ele diz que apenas cinco toneladas são produzidas no por aqui. “Precisamos importar muita farinha de trigo, isso reflete no momento em que o dólar está alto. Os moinhos ainda contam com estoque, mas já é sabido que teremos aumento nas próxima semanas”, disse ele, que prevê um aumento de 15%.

Alves ressalta que paga por volta de R$65,00 na saca da farinha de trigo atualmente. Com o aumento, ele diz que irá para R$79,00. “Vai subir muito, mas eu não vou repassar para o consumidor. Vou absorver esse valor por já ter em contrato com o fornecedor e ele não pode me repassar esse aumento”, enfatiza.

“Os produtos derivados do trigo, que são industrializados sofrerá reajuste. Massas em geral, pães industrializados, como pão de forma. Será um impacto muito grande para o Brasil. Esse aumento está chegando com quatro vezes mais em relação à inflação. Eu não vou subir agora por não achar justo, mas se subir gás, energia elétrica, não vai ter o que fazer para segurar”, finalizou o santista que está em Dracena há apenas cinco meses.

(Vanessa Matsumoto/JR)