O assassinato de um estudante na Universidade de São Paulo (USP) e os roubos ocorridos na instituição abriram uma polêmica. Estudantes, professores e funcionários da universidade discutem a necessidade de policiamento na Cidade Universitária.
Tradicionalmente, a Polícia Militar (PM) não patrulha o campus. Embora não exista uma lei ou ordem expressa impedindo a entrada de policiais na universidade, a presença deles na área da instituição é rara desde a ditadura militar. A segurança do local fica a cargo da guarda universitária, formada por servidores da USP.
A falta de policiamento, porém, é agora apontada pela comunidade universitária como uma das causas da insegurança no campus. Devido aos últimos acontecimentos, pessoas que trabalham ou estudam na universidade consideram a possibilidade de solicitar que a PM intensifique a vigilância.
Maíra Madrid é estudante de economia e presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu, que representa os alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, onde estudava o aluno assassinado. Segundo ela, a insegurança na universidade vem aumentando há meses. Contudo, ela não sabe se a PM seria solução para o problema.
“Tivemos dois casos de sequestro relâmpago na faculdade só neste ano. Também aconteceram vários roubos e furtos”, afirmou ela, à Agência Brasil. “Mas, sobre a presença da PM no campus, ainda não temos uma posição. Estamos debatendo o assunto com os estudantes”.
O diretor da FEA, professor Reinaldo Guerreiro, disse que os policiais precisam estar mais presentes. “Existe uma dificuldade de se fazer a segurança em um campus como este, muito grande e muito arborizado. “Eu acho importante [a presença da PM]. Por que dentro do campus eu não posso recorrer a um serviço de segurança do Estado?”
Guerreiro disse que a maior presença de policiais é a posição unânime entre os professores da FEA. Mesmo assim, ele admite que o tema é polêmico e ainda precisa ser debatido com toda comunidade da USP. Isso, porém, precisa ser feito rapidamente, até para evitar novos crimes.
De acordo com o delegado Carlos Alberto Delaye Carvalho, titular da delegacia responsável pela apuração dos crimes na Cidade Universitária, além do assassinato e dos dois sequestros relâmpagos, ocorreram na USP desde o início do ano sete roubos de carros à mão armada. Para ele, esses números não são considerados altos para uma área do tamanho do campus.
O delegado confirmou, contudo, que alguns desses crimes poderiam ter sido evitados caso a PM estivesse mais presente. “A PM entra quando é solicitado. Há uma certa resistência de alguns alunos e professores”.
O comandante interino do 16º Batalhão da PM paulista, major José Luiz de Souza, ratificou essa intenção. Ele coordena um setores responsáveis pela segurança na área da Cidade Universitária e disse que a PM já patrulha o campus normalmente pois isso é um dever constitucional da corporação. Segundo ele, a PM intensificou suas ações em abril, a pedido da reitoria.
Ele disse também que o relacionamento da PM com a reitoria da USP é bom, mas pode melhorar para aumentar a segurança. “Se alguma mudança ocorrer, será o estreitamento da relação”.
O governador Geraldo Alckmin afirmou que já conversou com o secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto, sobre o assassinato do estudante. Disse também que a PM está disposta em fazer uma parceria com a USP para melhorar a segurança. “Independentemente de estar ou não dentro do campus, a polícia pode ter o trabalho integrado com a segurança da USP”.
A reitoria da USP informou que vai fazer, amanhã (20), uma reunião extraordinária para avaliar o plano de segurança da instituição. A universidade informou também que vem tomando atitudes para coibir a violência no campus. Essa violência, de acordo com a USP, “reflete a realidade do entorno em que ele [o campus] está inserido na cidade de São Paulo”.