Os resultados da Prova Brasil de 2013 mostram a necessidade de estratégias e metas claras para o ensino, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. De acordo com os dados da última avaliação disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), há, entre alunos de diferentes estados brasileiros e até mesmo de uma mesma escola disparidades no aprendizado.
“É preciso uma base nacional comum, ter claro o que é essencial que o aluno aprenda, para que o sistema trabalhe de forma com que essas habilidades sejam obtidas”, diz o coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Faria. “Uma estrutura padrão que oriente o sistema, não o engesse, mas oriente o trabalho dos professores”, explica.
Os dados da Prova Brasil de 2013 mostraram que 24,45% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental estão abaixo do nível mais baixo de proficiência. Em matemática, esse percentual é 20,41%. No 5º ano, 24,16% estão na faixa que vai até o primeiro nível em português e 5,81% estão abaixo do primeiro nível em matemática. Em português, significa dizer que esses alunos não são capazes de identificar o assunto ou o personagem principal em um texto. “É preciso pensar formas de ensino para engajar, pensar em um projeto que permita trabalhar com alunos de níveis de proficiência diferentes e que possa dar suporte ao professor”, diz Faria.
Utilizando o critério do movimento Todos pela Educação, 23,6% deixam o ensino fundamental com desempenho acima do considerado adequado em português e 11,2%, em matemática. Entre os alunos do 5º ano, esses índices são, respectivamente, 39,9% e 34,7%.
“Mesmo que haja alunos fora do nível adequado, o que a gente gostaria de ver é os alunos avançando em direção a esse nível. Mas, o que os números mostram é que ainda há crianças muito distantes do nível adequado, uma concentração grande no Nível 1”, diz a coordenadora-geral do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco.
Ela concorda com Faria quanto à necessidade de uma base nacional comum que estabeleça metas claras. “A avaliação norteia quem entende o que está sendo avaliado, quem consegue decodificar o que vai ser avaliado, adapta o currículo, mas as redes mais frágeis não conseguem enxergar as metas nem o caminho. O que acontece em outros países é que se tem definido o currículo e o que se deve aprender ano a ano, avalia-se então o que se deve aprender. No Brasil, adivinha-se o que vai ser avaliado com base nas provas anteriores”, diz.
Os primeiros passos para a construção de uma base nacional comum curricular foram dados este ano. Trata-se também de uma promessa da presidenta Dilma Rousseff para o segundo mandato.
Quanto à divulgação dos dados, segundo Alejandra, o Todos pela Educação faz parte de discussões feitas pelo Inep sobre formas de qualificar os dados. Uma das questões discutidas é disponibilizar, por nível de proficiência, os tipos de questão que provavelmente os alunos dominam para que os professores tenham mais clareza para trabalhar as principais dificuldades em sala de aula. Outra questão em discussão é a disponibilização de iniciativas pedagógicas aos docentes.
O boletim divulgado pelo Inep mostra o percentual de estudantes na escola, no estado e no país em cada um de até dez níveis de proficiência. A quantidade de níveis varia de acordo com a série e com a disciplina avaliada. Neste ano, já houve mudanças na divulgação. As escolas podem consultar também a interpretação pedagógica dos níveis de desempenho. Diante de cada nível de proficiência, há uma descrição das habilidades que os alunos provavelmente já dominam. Além disso, podem comparar o desempenho com escolas próximas e com nível socioeconômico semelhante.
A Prova Brasil é um dos componentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), considerado um importante indicador de qualidade do ensino. O índice vai até dez e é calculado de dois em dois anos. O Ideb de 2013 foi divulgado pelo governo no início do mês. A meta estimada de 4,9 para anos iniciais foi a única cumprida pelo país, que obteve índice de 5,2.