Há quatro anos desenvolvendo um grande trabalho na área de pesquisas, o apiário do campus da Unesp de Dracena já colhe os frutos plantados. Formado pelo conjunto de várias colmeias de abelhas melíferas africanizadas, todo o trabalho é acompanhado pelo grupo de pesquisa e extensão universitária Núcleo de Operações Sustentáveis (NOS), sob a coordenação do professor doutor Daniel Nicodemo.
De acordo com Nicodemo, o Apiário foi criado devido à disciplina de Apicultura, ministrada aos alunos do curso de Zootecnia. Durante as aulas eles aprendem a biologia das abelhas, como estabelecer um apiário e efetuar o manejo de colmeias para produção de mel, própolis, geleia real, pólen e apitoxina (veneno da abelha). Eles também aprendem como produzir rainhas e a utilizar as abelhas para aumentar a produção de frutos e sementes, através da polinização dirigida.
No Laboratório de Ecologia e Insetos Úteis, os acadêmicos manuseiam equipamentos para o processamento de mel, como a centrífuga e o decantador. O professor explica que após a extração de mel, os favos são reaproveitados, sendo reintroduzidos nas colmeias, visando obter mais safras de mel.
Ainda de acordo com o professor, a quantidade de mel produzida varia conforme o número de abelhas por enxame e a oferta de néctar disponível no campo para as abelhas, “mas em média, num apiário fixo é possível obter de 20 a 50 quilos de mel por colmeia ao ano. Já num apiário migratório, no qual as colmeias são transportadas para algumas localidades com flores em abundância ao longo do ano, a produtividade pode chegar a 100 quilos de mel por colmeia ao ano”, explica.
No período de entressafra, quando não há flores disponíveis, as colmeias devem ser alimentadas com xarope à base de açúcar em água, para subsistência dos enxames.
Em 2013 foi necessário abranger nova área de pesquisa e criar um Meliponário, para que os alunos pudessem estudar a meliponocultura, disciplina implantada no curso à época.
Atualmente, há 15 colmeias de abelhas nativas (sem ferrão) no campus. É possível se aproximar das colmeias com essas abelhas sem medo algum, diferentemente das abelhas africanizadas, que requerem a utilização de todo um equipamento específico para manusear as colmeias.
Por serem mais sensíveis às variações climáticas, todas as colmeias das abelhas nativas são acondicionadas em caixas de madeira com paredes de madeira mais espessas e ficam debaixo de uma cobertura, ao abrigo de chuva e sol intenso.
Daniel explica ainda que dentre as atividades agropecuárias, a Apicultura e a Meliponicultura se destacam pelo baixo custo de implantação e porque as abelhas obtêm o seu próprio alimento no campo, visitando as flores.
A criação de abelhas é uma atividade praticada por mais de 350 mil apicultores no Brasil. A produção nacional de mel tem crescido e atualmente o País produz cerca de 50 mil toneladas de mel por ano. A cadeia apícola gera 450 mil ocupações no campo e 16 mil empregos diretos no setor industrial.
Além da produção de mel e outros produtos apícolas, as abelhas são fundamentais para manutenção dos ecossistemas. Elas promovem a polinização, processo que ocorre quando as abelhas buscam alimento na natureza. Ao coletar pólen e néctar das flores, elas transferem alguns grãos de pólen da parte masculina para a parte feminina de flores diferentes, fato que provoca a fecundação, a produção de sementes e o desenvolvimento de frutos.
O NOS já realizou um trabalho de pesquisa sobre a polinização da cultura da acerola na Nova Alta Paulista e, atualmente, está desenvolvendo um estudo com a cultura do urucum. Essas culturas são altamente dependentes das abelhas para que ocorra a produção de frutos e sementes.
No mundo existem cerca de 20 mil espécies de abelhas, sendo aproximadamente 25% desse total encontrados no Brasil. Só no Estado de São Paulo são encontradas mais de 700 espécies de abelhas.
De acordo com o estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentos (FAO), um terço da produção agrícola do mundo não ocorreria sem as abelhas e 70% de todas as plantas com flores dependem desses insetos para sua reprodução e perpetuação ao longo das gerações.
Na região de Dracena, a intensificação de monocultivos (grandes áreas rurais nas quais se cultiva uma única espécie vegetal), como o da cana-de-açúcar, aliado ao elevado uso de agrotóxicos, pode contribuir para a diminuição da população de abelhas, implicando na falta de alimentos para a população e declínio da biodiversidade.
A apicultura e a meliponicultura são consideradas atividades conservadoras, destacando-se entre as demais atividades agropecuárias por atender os requisitos do tripé da autossustentabilidade, o econômico (gera renda), o social (otimiza a mão de obra familiar), e o ecológico (desperta o interesse pela preservação ambiental).
O Apiário da Unesp local tem recebido desde a sua criação, em 2011, colaboração do apicultor dracenense, Celso Cardoso de Souza.
PESQUISA – Como forma de mostrar os efeitos ocasionados de dois inseticidas sistêmicos de largo espectro, fipronil e imidacloprido, em abelhas melíferas, recentemente foi publicado numa revista científica internacional, as implicações causadas nas abelhas por tais inseticidas. Esse trabalho foi desenvolvido na Unesp de Dracena, com a participação do professor doutor Daniel Nicodemo e do professor doutor Fábio Ermínio Mingatto, além de outros co-autores. O trabalho foi noticiado em sites de vários países da Europa, Ásia e América do Norte.
Esses inseticidas são amplamente utilizados na agricultura e os autores concluíram que fipronil e imidacloprido são inibidores da bioenergética mitocondrial, pois diminuem a quantidade de energia disponível para as células. “Se alguma coisa não ocorre da forma prevista, a produção de energia é prejudicada”, explica Nicodemo. “Assim como um avião, uma abelha precisa de combustível sem impurezas para poder voar.” Essa ação complementa o entendimento da toxicidade desses compostos para as abelhas.
Em decorrência da diminuição da população de abelhas, várias pesquisas têm sido realizadas sobre infestação com ácaros, doenças virais e os impactos diretos e indiretos dos pesticidas sobre as abelhas.
Daniel explica que: “Esses inseticidas afetam o sistema de nervoso de insetos praga e também de insetos benéficos, geralmente ocasionando a morte. Efeitos subletais relacionados a alterações comportamentais dos insetos são descritos em vários estudos. E, mesmo poucos nanogramas de ingrediente ativo podem comprometer a percepção gustativa, o aprendizado olfatório e a atividade motora das abelhas”.
“A característica principal do desaparecimento das abelhas é a incapacidade das operárias de retornar às respectivas colmeias, e tais limitações têm um impacto direto sobre essa habilidade de regresso ao local de origem”, conclui.