No início desta semana, a população de Dracena e região recebeu uma notícia que causou grande espanto e comoção – a morte de um comerciante na madrugada de segunda-feira, que tem como acusado do crime, o próprio filho do comerciante, de 19 anos, que teria assassinado a facadas o pai, em um surto psicótico. Essa não foi a primeira notícia do tipo e com certeza não será a última; porém, nos últimos anos é cada vez mais frequente a notícia de casos parecidos em todo o País.
Objeto de estudos e de ações preventivas do poder público, a situação demonstra o grande avanço que os problemas psicológicos vêm tendo sobre a população e principalmente sobre os jovens e adolescentes, que na maioria das vezes são quem sofrem e demonstram os sintomas desses problemas.
A psicóloga Maria Cristina Suckow, que atua em Dracena, não teve acesso às informações sobre o caso, e, por isso, não pode abordar o assunto com muita propriedade; porém, com sua grande experiência, Cristina afirma que problemas desse tipo podem ser percebidos por pais atentos, que participam ativamente da vida, da formação e do desenvolvimento dos filhos quando crianças e quando adolescentes.
Pais atentos x desenvolvimento dos filhos
A psicóloga Cristina destaca que os pais precisam antes de tudo se informar sobre todo o processo de crescimento e desenvolvimento dos filhos, através da procura de profissionais da área da saúde que possam abordar o assunto. Ela afirma que independentemente do contexto social e cultural em que o jovem esteja inserido, os problemas podem aparecer. Cristina destaca que geralmente esse tipo de problema se manifesta na infância, quando a criança começa a se relacionar com colegas de escola e aumenta o seu círculo de convivência.
Afirma que é nessa fase que a criança começa a se relacionar com o mundo exterior e que esse relacionamento precisa acontecer de forma segura e saudável, para que a criança comece a desenvolver o seu lado psicológico. Nesse momento, qualquer alteração que venha a ser percebida pelos pais, como reclusão, dificuldade de se relacionar com colegas e professores e a falta de respeito de limites pode indicar algum problema, porém, quando os pais percebem alguma alteração, a melhor atitude é procurar o auxílio de um profissional que poderá dizer se a mudança é típica da idade e do momento que a criança passa ou se é realmente algum problema psicológico.
Cristina destaca que a ausência dos pais, que por motivos profissionais e até por falta de informação não se fazem presentes fisicamente no dia-a-dia dos filhos, pode iniciar pequenos problemas que com o passar do tempo poderão trazer muitas dificuldades aos jovens. Muitas vezes os pais, por terem consciência dessa ausência, acabam permitindo que os filhos façam tudo aquilo que querem. Geralmente isso produz jovens e adolescentes despreparados para viver no mundo real e passar pelas dificuldades que todos passam durante a adolescência.
Imaturidade para viver no mundo real
A psicóloga afirma que quando a criança chega a adolescência passando por esse tipo de infância, ela acaba demonstrando dificuldade em lidar com o mundo real, que vai lhe trazer frustrações e desilusões. Cristina explica que é nesse momento que o adolescente começa a passar por uma fase de crescimento, que vai o levar a vida adulta. As mudanças físicas e psicológicas que um adolescente atravessa são muito grandes, e um momento de ansiedade é totalmente normal dentro desse contexto. Porém, mais uma vez a psicóloga alerta que os pais precisam estar sempre atentos às mudanças, e se necessário consultar um profissional.
É nesse momento que o jovem pode começar a se isolar, que a sua produtividade cai, que as notas diminuem e que até a aceitação dos amigos muda. A partir dessa situação, os jovens começam a demonstrar cada vez mais os sintomas do desajuste, que pode levar a uma série de complicações, como promiscuidade sexual, utilização de drogas licitas e ilícitas e surtos psicóticos.
Cristina afirma que o jovem procura alívio para a frustração e dor psicológica que está sentindo por não viver mais no mundo “perfeito” que os pais lhe ofereceram durante a infância, dessa forma, fugindo da realidade. A psicóloga ressalta que nem todos os adolescentes passam por isso, porém aqueles que demonstram fragilidade psíquica estão mais propensos a esses problemas.
Mais uma vez a psicóloga destaca que os “pais atentos” precisam nesse momento agir, procurando a ajuda profissional. Cristina destaca que muitos são os fatores que podem levar os adolescentes a situações extremas, como a de um surto psicótico. Ela firma que o uso de drogas, que inicialmente são usadas pelos jovens para fugir da realidade, pode servir como o fator potencializador de um surto.
A psicóloga afirma que a principal arma dos pais para que seus filhos não desenvolvam esse tipo de problema é a atenção. Ela ressalta que os pais precisam acompanhar os filhos de longe, deixando-os passar pelas experiências necessárias para o crescimento, mas demonstrando estarem atentos aos eventuais deslizes que os filhos possam cometer.
Maria Cristina destaca que as mudanças pelas quais os adolescentes passam geralmente são difíceis, porém podem ser detectadas por um profissional e são normais. Já os problemas psicológicos que eventualmente uma criança ou adolescente possa apresentar que não são normais e a falta de tratamento especializado pode fazer com que as consequências sejam muito graves.
A psicóloga não possui muitas informações sobre o caso ocorrido em Dracena no início da semana, porém acredita que o problema apresentado pelo jovem não surgiu repentinamente, pois esses casos nunca são assim; ela acredita que o jovem não teve seus problemas detectados anteriormente e que em algum momento algo fez com que o jovem passasse por uma situação limite, que o fez “adoecer”.