O Ministério da Defesa, por meio das Forças Armadas, vai ocupar e monitorar 14 estruturas estratégicas, entre as quais as duas usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ), durante a realização da Jornada Mundial da Juventude, evento católico que ocorrerá entre os dias 23 e 28 de julho, no Rio de Janeiro, com a presença do papa Francisco.
Militares da 9ª Brigada de Realengo (bairro da zona oeste da capital fluminense) iniciam a operação 15 dias antes do início da Copa das Confederações. O objetivo é evitar possíveis ações terroristas ou tentativas de sabotagem nas áreas de fornecimento de água e energia e telecomunicações, entre outras.
“Sempre há uma preocupação com o terrorismo internacional. Não há nenhum indício sobre isso. Pelas análises de riscos que nós temos, não temos indício de uma ação terrorista, mas está aí a Maratona de Boston que mostra que, quando não se esperava absolutamente nada, ocorre um fato trágico. E uma outra preocupação é a grande quantidade de pessoas. Isso também pode ser um potencial foco de incidentes. Uma concentração grande de pessoas em um único lugar pode provocar um estouro da boiada”, disse.
Também constam na lista de pontos estratégicos a ETA (Estação de Tratamento de Água) do Guandu, a Elevatória do Lameirão, o Centro de Controle de Furnas, o cruzamento das linhas de transmissão em Nova Iguaçu (no bairro Rosa dos Ventos), na Baixada Fluminense, os sítios de antenas do Mendanha e do Sumaré, a estação de energia de Guaratiba, a usina termelétrica de Santa Cruz, e as subestações de energia de Adrianópolis, Grajaú, Jacarepaguá e São José.
“A usina de Santa Cruz, por exemplo, é uma preocupação porque fornece parte da energia para o Rio de Janeiro. Uma proporção pequena, mas ela também tem essa responsabilidade. Então, vamos auxiliar na proteção desse local para evitar que aconteça ali uma sabotagem ou um ato terrorista que possa comprometer o funcionamento da usina. Não vamos operar internamente. Vamos nos preocupar com a segurança no entorno”, explicou o general José Alberto da Costa Abreu, da 1ª DE (Divisão de Exército), designado pelo CML (Comando Militar do Leste) para comandar o esquema de segurança durante a JMJ.
“O efetivo vai variar de ponto para ponto. Tem ponto que vai ter apenas um trabalho de inteligência, uma vigilância, porque a própria estrutura existente naquele ponto garante a segurança daquele local. Varia de acordo com o grau de relevância, localização e também alguns informes que possam existir sobre potenciais riscos”, completou o general.
Segundo ele, os dois aeroportos da cidade, Santos Dumont, na zona sul, e Galeão, na zona norte, também serão monitorados. A missão caberá aos batalhões de Infantaria da Aeronáutica, que deverá promover ações de inteligência no sentido de identificar pessoas que eventualmente possam ser classificadas como suspeitas de terrorismo. Passarão ainda por constante fiscalização a rodoviária Novo Rio e o porto do Rio de Janeiro. Nesses locais, porém, não está prevista a instalação de tropas. “A nossa maior preocupação é a Jornada Mundial da Juventude. É um evento maior e com uma personalidade mundial que é o papa”, afirmou Abreu.
Lei e ordem
Em entrevista ao UOL, o general comandante da 1ª DE disse que o plano de segurança para a Jornada Mundial da Juventude já está praticamente definido, restando apenas ajustes a serem feitos conforme a agenda do papa Francisco que deve ser divulgada pelo Vaticano na terça-feira (7). O esquema possui dois eixos: segurança e defesa. O primeiro cabe ao Ministério da Justiça, por meio da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança em Grandes Eventos); já a segunda é de responsabilidade do Ministério da Defesa, isto é, das Forças Armadas. O efetivo total será de mais de 12 mil homens.
Serão mobilizados mais de 8.600 militares –cerca de 6.000 do Exército, 2.000 da Marinha e 600 da Aeronáutica–, além de aproximadamente 4.500 policiais e agentes de diversas instituições. Pelo menos 800 militares do batalhão do Exército em Petrópolis, na região serrana do Rio, ficarão aquartelados na capital fluminense em regime de contingência. As Forças Armadas, que terão poder de polícia após a publicação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), serão responsáveis pela segurança em Guaratiba, na zona oeste da cidade, principal ponto de peregrinação durante a JMJ. Lá o Papa deverá celebrar uma missa para um público de 2,5 milhões de fiéis no dia 28 de julho.
“A GLO permite que as Forças Armadas atuem como polícia dentro de um quadro de normalidade, mas necessitando que ela realmente tenha esse poder de polícia para exercer sua atribuição sem qualquer comprometimento judicial. Para poder fazer prisões. Uma defesa de patrimônio, se for o caso. Nós trabalhamos com regras de engajamento. Se a tropa recebe um tiro, por exemplo, pelas regras de engajamento e estando amparada pela GLO, ela pode responder da mesma forma. Isso nos dá essa garantia de atuar respaldada pela Justiça”, explicou.
Barreiras
Em Guaratiba, as Forças Armadas farão três barreiras de proteção no sentido de organizar a entrada e saída dos peregrinos, e impedir que o papa Francisco, que irá ao local para uma grande missa de encerramento, no dia 28 de julho, esteja exposto a perigos. Toda a operação ficará a cargo da Brigada de Infantaria Paraquedista. Mais de 4.000 militares estarão mobilizados somente em Guaratiba.
O primeiro cordão será formado a 3km do palco principal, e funcionará como mecanismo de controle de acesso, segundo o general Abreu. “A partir desse ponto, só os veículos autorizados poderão passar. Serviços como saúde, alimentação e segurança. Se algum grupo quiser se aproximar com o objetivo de criar um distúrbio, essa primeira linha logo conseguirá impedir”, explicou o comandante da 1ª DE.
Já a segunda barreira será formada a 500 metros do palco com o intuito de proteger o entorno. A cem metros, uma última linha formada por militares descaracterizados, “observando e dando segurança para as autoridades”, de acordo com o general. Há possibilidade, segundo ele, de que os veículos blindados do Exército sejam utilizados para facilitar a logística da operação.
Durante toda a Jornada Mundial da Juventude, as Forças Armadas disponibilizarão um grupo de 140 militares treinados para atuar na segurança pessoal do papa em caso de situações emergenciais. Eles poderão reforçar a equipe da Polícia Federal –que tem a responsabilidade de garantir a segurança do pontífice– ou mesmo substituir algum agente.
“Temos 140 homens preparados para atuar na segurança pessoal do papa e das demais autoridades. São 140 homens bem preparados, que falam outros idiomas, que tem experiência internacional como a operação no Haiti, que esteve na operação Arcanjo no Complexo do Alemão, dentro do Riocentro durante a Rio+20. Eles vão estar de terno em condições de reforçar ou até mesmo substituir de maneira a proporcionar a segurança do papa e das autoridades”, declarou Abreu.
Equipamento de guerra
As Forças Armadas utilizarão o potencial máximo de seu equipamento operacional e de inteligência. Segundo o general Abreu, blindados do tipo CLANF, Urutu e Cascavel estarão guardados em pontos estratégicos.
A Força Aérea fará uso de seus modelos mais avançados: o caça F-5, o jato Super Tucano, o helicóptero M-60, além de veículos não tripulados. Todo o aparato estará de prontidão para qualquer situação emergencial.
Outra característica do armamento utilizado durante o evento católico será a farta utilização de armamento não letal. Todos os militares que atuarem no esquema de segurança portarão pistolas de choque, spray de pimenta, balas de borracha, entre outros.
Apesar do grau máximo de cautela, o general Abreu afirmou ao UOL que a população não verá tanques de guerra apontados para favelas, tal como ocorreu durante a Eco 92.
“Hoje nós temos as Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas. De certa forma, isso proporciona uma segurança para a população. Isso é um fato. Não há necessidade de uma preocupação das Forças Armadas com as comunidades. Elas estão sob guarda da Polícia Militar. Isso vocês não verão, definitivamente. Nem na Copa das Confederações nem na Jornada Mundial da Juventude”, afirmou.
Espaço aéreo e marítimo
Durante a JMJ, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) decretará zona vermelha (proibida) em todos os locais pelos quais o papa Francisco estiver cumprindo agenda. As principais áreas de exclusão são Guaratiba e Copacabana.
A depender das circunstâncias dos eventos e atividades da Jornada Mundial da Juventude, o espaço aéreo poderá ser dividido em zonas amarela (restrita) e branca (reservada). A execução ficará a cargo do Comdabra (Comando de Defesa Aérea Brasileira), que estará autorizado a abater quaisquer aeronaves suspeitas.
Já em relação ao espaço marítimo, a Marinha foi orientada a posicionar navios em pontos estratégicos da costa brasileira.
Centro de comando e controle
Todas as ações que fazem parte do esquema de segurança da Jornada Mundial da Juventude serão coordenadas e monitoradas pelo CCA (Centro de Coordenação de Área), uma sala de operações situada no Palácio Duque de Caxias, a sede do CML (Comando Militar do Leste), no centro da cidade. O local é o mesmo que serviu de base para as Forças Armadas durante a Rio+20.
No CCA, os militares e representantes de todos os órgãos de segurança envolvidos no esquema têm condições de monitorar a cidade com imagens de mais de 500 câmeras. A estrutura é semelhante a do Centro de Operações da Prefeitura do Rio.
Também no prédio do CML funcionarão o o CCTI (Centro de Coordenação Tático Integrado), que reunirá todas as agências e órgãos especializados e focados em operações especiais –a exemplo do Bope (Batalhão de Operações Especiais), a divisão de elite da PM do Rio, e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), a da Polícia Civil–, e o Centro de Inteligência, onde serão articuladas eventuais ações antiterrorismo e contraterrorismo, além da defesa cibernética.