A primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) foi criada em 1985 para registrar ocorrências, investigar e apurar crimes de violências contra a mulher e o Estado de São Paulo foi o primeiro no País a contar com uma delegacia especializada no atendimento a mulheres vítimas de violência física, moral e sexual. Desde 1996, as DDMs passaram a atender também crianças e adolescentes vítimas dos mesmos abusos.
Em Dracena, de janeiro de 2012 até terça-feira, 13, 1.800 ocorrências foram registradas na DDM. Somente no ano passado quase 800 ocorrências foram lavradas na delegacia, na maioria envolvendo mulheres vítimas de violência doméstica.
Com a experiência de quem está a 23 anos na Polícia Civil, dos quais grande parte dedicados a DDM, a titular da delegacia especializada, a delegada Maria Ângela Tófano Rodrigues falou a reportagem sobre questões ligadas à violência contra a mulher, traçando um panorama sobre o assunto.
Maria Ângela explicou que os crimes mais comuns contra a mulher são lesão corporal e ameaça e que historicamente vêm sendo desta forma. A delegada enfatizou que na maioria dos casos o agressor é o companheiro da vítima, o próprio marido, namorado ou a pessoa que mantém uma relação conjugal com a vítima.
Ela informou que as mulheres na faixa etária de 20 a 30 anos, são as principais vítimas de violência.
Indagada se as mulheres ainda se sentem persuadidas ou inibidas a não procurar a delegacia para registrar queixas de violência, a delegada respondeu que este quadro mudou com o passar dos anos, as mulheres passaram a quebrar determinadas barreiras. Mas salientou que ainda muitas vítimas se omitem diante da violência e não procuram ajuda.
“Não podemos ignorar que muitas mulheres ainda se escondem. Em alguns casos não se trata de medo, mas sim por vergonha ou insegurança”, explicou.
LEGISLAÇÃO – Sobre a Lei Maria da Penha (Lei N.º 11.340, de 7 de agosto de 2006), que completará 8 anos de sanção este ano, a delegada reconhece que é um avanço significativo na defesa da integridade física e moral da mulher. Porém afirmou que educação e cultura complementam o fundamento da legislação, principalmente quando aprendida desde as idades iniciais, ou seja, com bons exemplos e salientou que este é um problema histórico.
“O problema da violência doméstica é cultural. Se buscarmos num passado próximo, alguém lá trás disse que a mulher tinha que apanhar, que a mulher não podia votar, que a mulher não podia trabalhar”, disse.
Ela destacou que com o passar dos tempos as mulheres alteraram este cenário, porém ainda a violência contra elas é um fator presente na sociedade e que tal fator também é um problema social e de classes.
“Faltam políticas públicas efetivas para mudar o cenário e isso só será obtido quando houver uma distribuição de renda mais igualitária, ensino público e saúde de qualidade”, destacou.
A delegada disse que em muitos casos, a vítima apesar de registrar ocorrência contra o seu agressor, acaba voltando para ele. “Tenho percebido em todos esses anos, certa carência afetiva por parte de muitas mulheres, que preferem em alguns casos ficar com seu agressor, ao invés de os deixarem”.
A delegada ressaltou que cada caso é um e todos têm suas peculiaridades e particularidades. Maria Ângela frisou que ao não denunciar a violência sofrida, a mulher fica mais exposta à reincidência. “Um ditado muito antiga diz que: o silêncio é cúmplice da violência”.