Entrada de turistas no sistema metroviário na ida para o estádio em Itaquera. (Foto: Arquivo/G1)
Os casos de furtos registrados dentro de trens, metrô e ônibus aumentaram quase cinco vezes durante a Copa do Mundo em São Paulo em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 2.741 boletins de ocorrência feitos na Polícia Civil entre 12 de junho e 13 de julho. A média de ocorrências foi de mais de 85 por dia no transporte coletivo. No mesmo recorte dos dois anos anteriores, o total havia sido de 572 queixas (2013) e de 654 (2012). Em comparação com 2013, o aumento na Copa em 2014 chega a 379%.
Também houve aumento de furtos e roubos a pedestres durante os 32 dias do Mundial. Paulistanos e turistas relataram à policia 13.026 casos (sendo 9.036 roubos e 3.990 furtos). O aumento foi de 58% se comparado com o mesmo período de 2013. Se a avaliação for feita com base em 2012, o crescimento é de 82%.
O levantamento exclusivo do G1 considerou todas as ocorrências registradas nos 93 distritos policiais de São Paulo. Entre os dez tipos de crimes ou incidentes mais comuns, houve crescimento em quatro e queda em seis na comparação com os anos anteriores. Além de furto no interior de transporte coletivo, e furto e roubo a transeunte, também subiram os casos de lesão corporal dolosa (briga).
Houve queda nos registros de perda/extravio de documentos, roubo de veículos, furto de veículos, colisão, ameaça e veículo localizado.
O G1 já havia antecipado a tendência ao apontar o crescimento dos casos de furtos e roubos de celulares na Vila Madalena: a alta foi de 3.500% durante a Copa.
A Polícia Militar (PM) atribuiu o crescimento de furtos, roubos e brigas durante a Copa à presença maciça de turistas brasileiros e estrangeiros na capital, que atraiu também criminosos locais e até de outros países.
“Esse aumento de algumas ocorrências não é surpresa para a PM e está relacionado à presença de turistas durante a Copa”, disse o coronel Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM no estado de São Paulo.
Levantamento da SPTuris, da Prefeitura de São Paulo, mostra que mais de 540 mil turistas passaram pela cidade durante a Copa. Desse total, 220 mil foram estrangeiros.
“A polícia também intensificou seus esforços, pondo mais policiais nas ruas para garantir a segurança da população”, afirmou Meira.
De acordo com a PM, a corporação esperava pela mudança de comportamento criminoso devido à presença de turistas. Por isso, foi criado o Comando de Policiamento Copa (CPCopa), com mais de 4 mil policiais que prenderam 153 pessoas suspeitas de crimes, entre 18 de maio, data da sua criação, até esta sexta-feira (18), quando encerrou os trabalhos.
“Nesta Copa, os criminosos também apareceram devido a grande quantidade de pessoas que vieram visitar São Paulo”, disse o coronel Wagner Tardelli, comandante do CPCopa. “Inclusive criminosos estrangeiros, principalmente latino-americanos, que vieram para cá e acabaram presos”.
Furto a coletivo
Dos quatro crimes que mais tiveram aumento na capital durante a Copa em relação mesmo período do ano passado, furto no transporte coletivo foi o segundo que mais subiu. O registro de 2.741 casos representa alta de 379% em relação aos 572 casos de 2013.
“Tivemos informações de furtos dentro do Metrô e da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos]”, disse o coronel Tardelli. “A PM teve policiais nas estações e vagões para inibir essa ação criminosa”.
Furto a transeunte
O período do Mundial teve 2.843 casos a mais de furto a pedestre _ocorrência que mais cresceu. Foram registrados 3.990 boletins entre 12 de junho a 13 de julho deste ano, ante 1.147 queixas em 2013. Em 2012, ocorreram 1.287 crimes.
Em média, São Paulo teve por dia mais de 124 ocorrências de furto a pedestres nos dias do torneio. “Esse tipo de crime foi visto em locais de grande aglomeração de pessoas, quando a vítima se distrai e o criminoso se aproveita da situação para furtar, seja uma carteira ou um celular”, disse o comandante Meira.
Roubo a transeunte
Terceiro crime que mais cresceu em relação ao ano passado, “roubo consumado a transeunte” teve 9.036 registros – 1.949 a mais do que em 2013, quando 7.087 queixas foram feitas. Mais de 282 ocorrências por dia foram feitas, em média.
“Perto da Arena Corinthians, por exemplo, chegamos a deter estrangeiros que tentavam roubar ingressos para a Copa de torcedores”, afirmou Tardelli. “Depois que passamos a fazer varreduras no local, alguns criminosos migraram para outros locais”.
Lesão corporal
As brigas aparecem como a quarta ocorrência que mais cresceu. Registrada como lesão corporal dolosa, ela teve 2.991 citações neste ano ante 2.937 em 2013. Em média, foram mais de 93 confusões por dia.
“Muitas dessas brigas podem ter ocorrido na Vila Madalena”, disse Meira. “Você tem um espaço reduzido com muita gente circulando e bebendo”. Segundo a SPTuris, mais de 50 mil pessoas por dia, em média, visitaram a Vila Madalena durante os seis dias de jogos da Copa que aconteceram em São Paulo.
Outras ocorrências
Os seis registros que caíram nesta Copa em relação ao mesmo período do ano passado foram: perda e extravio de documentos; roubo consumado a veículo; furto de veículos; colisão; ameaça e veículo localizado. Para Meira e Tardelli, a presença intensa da PM nas ruas contribuiu para a redução de crimes contra veículos.
Para a PM, o balanço final da segurança da Copa foi positivo. Na opinião dos comandantes, a principal preocupação da corporação durante o mundial era com os protestos contra os gastos públicos da competição.
“Hoje posso dizer que as manifestações violentas eram nossa principal preocupação, tanto que utilizamos 6 mil policiais só no dia da abertura, em 12 de junho [quando o Brasil enfrentou a Croácia em São Paulo]”, disse o comandante Meira. “A preocupação da PM era os manifestantes fecharem as vias de acesso ao estádio, mas graças aos policiais isso não ocorreu”.
Durante a intervenção policial, houve confronto com os ativistas. Bombas de gás foram lançadas e suspeitos de depredação foram presos pela PM perto do Metrô Carrão.
Reforço no efetivo
Durante a Copa, policiais militares e civis foram impedidos de tirar férias para reforçar a segurança na cidade. A Polícia Militar ficou encarregada de patrulhamento ostensivo nas ruas para combater a criminalidade.
A Polícia Civil coube à investigação para elucidar esses crimes. O G1 não conseguiu localizar o delegado-geral da instituição, Luiz Mauricio Blazeck, para comentar o assunto.
O levantamento dos crimes que ocorreram em São Paulo durante a Copa são apenas um recorte dos dados que a Secretaria da Segurança Pública utiliza para elaborar suas políticas públicas. Após o dia 25 a pasta divulgará os índices criminais do mês anterior, de junho. Os dados de julho só serão conhecidos em agosto. A secretaria não costuma divulgar recortes fracionados de crimes. Exceção feita ao Carnaval, Natal e Ano Novo.