Em ano de Copa e eleições, como de costume, esses assuntos quase que monopolizam os espaços na mídia, especialmente na internet, com a consequente “espetacularização” da informação. Neste contexto, muitas vezes o que realmente merece atenção acaba sendo deixado de lado, como o caso de racismo contra o jogador Daniel Alves, do Barcelona. 

Enquanto a polêmica tomou conta das redes sociais em pouquíssimo tempo, atraindo milhares de adeptos para a campanha proposta pelo jogador Neymar (#somostodosmacacos), uma equipe de profissionais de marketing estava preparada, aguardando o “OK” para lançar sua marca. Surpreender as pessoas, aliás, é fundamental em qualquer campanha de marketing. Quem não se lembra do episódio do “enterro” de um automóvel Bentley por um milionário no ano passado, que foi uma espécie de teaser para uma campanha publicitária para a doação de órgãos.    
O que incomoda não é a manipulação marqueteira do sentimento popular de repúdio à manifestação de racismo. A criatividade e a ousadia cada vez maior do meio publicitário brasileiro são admiráveis e é bom que estejam sendo utilizados para uma causa justa. O que é preocupante é que a sociedade só se dá conta de nossas mazelas, como o racismo, quando um fato “espetacular” a deixa chocada. Veja-se, por exemplo, a questão da Educação. Todos concordam que ela é fundamental para o futuro do país. Mas quantos percebem que ainda sofremos os graves efeitos do sucateamento do ensino público herdado da ditadura militar e dos governos neoliberais?        
Essa escassez, aliás, não se restringe somente às escolas públicas. Apenas 2% dos jovens que terminam o ensino médio querem ser professores. Segundo o Censo do Professor de 2007 do Ministério da Educação/Inep, entre os docentes que dão aula de física, por exemplo, 61% não foram formados sequer em áreas correlatas. Por não terem professores de áreas específicas, inúmeras escolas e mesmo faculdades estão recrutando profissionais sem formação para ministrar aulas que requerem especialização.  
E não é apenas por conhecer a desvalorização do docente – com baixos salários e poucas oportunidades profissionais – que os jovens estão deixando de procurar a carreira de professor. A eles se somam os diversos problemas cotidianos vividos pelo professor em sala de aula, entre eles o aumento da violência. Assim, os responsáveis pela educação de nossos filhos e pelo futuro do país são cada vez mais escassos e estão cada vez menos preparados.    
O Ministério da Educação entende que a carência de docentes existe, mas é “pontual”, segundo o secretário de Ensino Superior, Paulo Speller. Na área de engenharia, por exemplo, espera-se que o problema diminua devido ao crescimento do número de pós-graduações. Mas as universidades estão tendo dificuldades para contratar profissionais, em razão dos salários mais atrativos oferecidos pelo setor privado. Ou seja, para que um aluno vai esperar o doutorado para dar aula se ele pode ganhar mais numa empresa como recém-formado?
O novo Plano Nacional de Educação, em tramitação no Congresso, prevê que o país gaste o equivalente a 10% do PIB em Educação dentro de dez anos. Mais verbas, contudo, não bastam para reverter o quadro atual. É preciso saber gastar bem. No caso dos professores, é necessário um processo de revalorização do docente que passa não só pela remuneração, mas principalmente pela requalificação profissional.  
Precisamos, definitivamente, superar essa herança maldita que transformou a educação em um negócio lucrativo para poucos em detrimento dos estudantes, dos professores e do futuro do país. E deu uma banana para a Educação!     
 
*especialista em
Enem e diretor do
Cursinho da Poli (SP)