As colações de grau, normalmente, são um fardo a todos que dela participam e não sejam formandos. Talvez a formalidade, o excesso de gente desconhecida, as fotos e mais fotos, as piadas internas, o atraso da cerimônia, e o do jantar, estejam entre as causas da chatice do evento. Entretanto, são inegáveis a felicidade e a cumplicidade ali exageradamente escancaradas nos semblantes dos formandos, o que pode torná-las inesquecíveis.
A educação é tarefa árdua e ao mesmo tempo prazerosa por um grave motivo: ela se dá única e exclusivamente através das subjetivações. E por essas pessoalidades, nós, trabalhadores da educação, sabemos que os alunos não são iguais, nem as turmas, tampouco os educadores. Justamente daí vem o encantamento: as formas de conhecimento variam de aluno para aluno, de turma para turma, de professor para professor.
É especialmente gratificante ver como essas turmas, únicas, se assemelham de certa forma no momento da colação. Há uma uniformidade díspar, com o perdão do paradoxo. Uniformes na emotividade, elas são particulares em sua formação, portanto únicas.
Apesar dessa latente uniformidade, eu não me acostumei às colações, ainda, e espero que não me acostume. Se eu dissesse que os sentimentos são os mesmos em todas as colações eu seria mentiroso e incoerente em relação ao que já foi dito. E seria também mentiroso se dissesse que não há sentimentos.
Na última semana me surpreendi por sentir-me emocionado pela formação de duas turmas com as quais trabalhei por apenas um ano. Foi um misto de gratificação, pelo carinho recebido por tão pouco tempo juntos, e inveja; talvez a inveja que sinto deles seja o que mais me emocione. Como eles são cheios de vida, como eles permitem-se, choram, entregam-se, desesperam-se, enervam-se, e tudo isso é real. Parece que aquela torrente é distante de nós, não formandos, já que não sentimos toda aquela euforia, aquele medo, a satisfação, a insegurança, e isso deixaria a nós o evento ainda mais sem graça; mas não. Quem já se formou já sentiu isso tudo, e sempre é ótimo sentir: é o que nos faz humanos.
Eu só tenho agradecimentos às duas turmas pela aula de humanidade que tivemos na última quarta-feira. Foi ótimo vê-los vivos. Desejo que cada um continue permitindo-se às diversas felicidades e agonias que estão por vir. E, mais, desejo que continuem despertando esses sentimentos. Quando será que as pessoas deixam de sentir? Por sorte há esses ímpetos que nos revigoram. Se estivermos atentos, claro.
*professor de Redação do Colégio Objetivo de Dracena.