As bebidas alcoólicas fazem parte das substâncias psicoativas (SPA) que atuam no sistema nervoso, geralmente produzindo sensações agradáveis. Inicialmente de obtenção difícil e produção restrita elas eram utilizadas somente em cerimônias religiosas ou festas coletivas, em determinadas épocas do ano. Com a revolução industrial a produção foi incrementada e, como mais uma mercadoria, passou a ter o seu uso incentivado fortemente por meio de campanhas publicitárias muito bem elaboradas.
Esta situação, uma droga com venda legalizada para maiores de 18 anos de idade, mas com controles ineficazes para os que ainda não atingiram esta idade, só se torna notícia quando ocorre uma tragédia, como a morte no trânsito, sendo motorista, carona ou pedestre atingido por alguém embriagado, ou por excesso de uso (overdose), como o que ocorreu com um de nossos alunos no início deste ano.
Esta situação nos leva a refletir alguns pontos sobre a relação bebidas alcoólicas e jovens, pois são estes que estão em nossa Universidade, em busca de formação para o pleno exercício da vida adulta. O primeiro deles se refere como a televisão trata o tema, com apresentações de confrontos entre policiais e traficantes de drogas ilegais ou dramas familiares provocados por dependentes de drogas, como o crack, para, na mesma programação, veicular comerciais de bebidas alcoólicas, especialmente de cervejas. Estudos mostram que a mídia destinada ao público jovem não deixa claro que embora bebidas alcoólicas sejam lícitas, elas também são drogas, e, portanto, acarretam danos à saúde e prejuízos sociais.
O segundo ponto é a necessidade de deixar claro para estes grupos o que é “beber com moderação”, frase que um locutor anuncia ao final das propagandas de cerveja, mas não explica o que estas palavras significam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define esta conduta como duas doses por dia para homens e uma para mulheres. Entendendo-se por dose toda a bebida que tenha cerca de 12 gramas de álcool puro. Em termos práticos esta quantidade é encontrada em uma lata de cerveja (350 ml), um copo de vinho (150 ml) ou em uma dose de destilado, como pinga, uísque ou conhaque (36 ml). Da cerveja para a pinga diminui-se somente a quantidade de água em que o álcool está diluído.
O terceiro ponto é o nível de álcool no sangue (NAS), que dependerá da quantidade de doses ingeridas, peso e sexo da pessoa. Tomando, por exemplo, um rapaz que pese 60 quilos e beba uma dose em uma hora, ele alcançará o NAS de 0,025 e caso beba duas doses passará para 0,050. Por sua vez se ele beber cinco doses em três horas, ele atingirá o nível de 0,093 e ficará embriagado, ou mais grave, se beber as cinco doses em uma hora alcançará o nível de 0,125. Estes cálculos podem ser facilmente simulados em uma planilha eletrônica disponível no endereço www.viverbem.fmb.unesp.br. Estes números são para rapazes, pois o álcool é uma droga que tem efeito diferenciado no organismo feminino. As moças têm menos enzimas que metabolizam o álcool, o que as tornam mais sensíveis a esta substância. Lembrando, também, que uma dose leva em média uma hora para ser eliminada e “banhos frios” ou “café amargo” não altera o ritmo do metabolismo.
O quarto, e último ponto, refere-se às teorias sobre droga dependência, que consideramos como resultado de fatores biológicos, sociais e psicológicos. O fator biológico se refere ao nível da enzima que metaboliza o álcool, pois se for alto, a pessoa beberá muito até perceber os efeitos negativos da bebida. Os fatores sociais podem ser sintetizados em uma sociedade que permite que seus adolescentes e jovens sejam bombardeados por sedutoras propagandas muito bem elaboradas que estimulam o consumo de bebidas. Lembrando que a propaganda de tabaco foi retirada da mídia e ano a ano o número de tabagistas diminui em nosso país. Entre em fatores psicológicos temos baixo nível de habilidades sociais e intolerância à frustração. A combinação destes fatores pode levar a situações em que o consumo de bebidas alcoólicas se inicie precocemente, em média aos 14 anos de idade, de acordo com as pesquisas sobre o tema.
Finalizando, para prever problemas decorrentes do uso excessivo de álcool, como os que ocorrem em festas de estudantes, recomendamos a implantação de programa para identificação precoce dos alunos que apresentam um padrão de risco, para aplicação posterior de intervenção breve voltada a abstinência ou moderação de uso. E, principalmente, a sensibilização e conscientização dos jovens sobre os prejuízos e riscos associados ao consumo de bebidas alcoólicas.

*são professores da Unesp, lecionam no Departamento de Educação do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas do Campus de São José do Rio Preto.