A inovação tornou-se a mais relevante variável para o crescimento econômico em todo o mundo, suplantando fatores como a disponibilidade de recursos naturais, acumulação de capital, poderio militar ou posicionamento geopolítico.

O governo brasileiro vem dedicando parte significativa de suas receitas ao fomento à ciência, tecnologia e inovação. Pouco mais de 0,9% do PIB vem sendo aplicado pelo setor público no apoio a essas atividades. Trata-se de significativo e louvável esforço, e que resultou, dentre outros impactos, no Brasil estar situado em 14º lugar dentre os maiores países produtores de conhecimento científico no mundo.
Contudo, o esforço público que nos colocou dentre os mais avançados países em produção científica não se mostrou capaz de retirar o Brasil de um vergonhoso 69º lugar no ranking de transformação do conhecimento em agregação de valor econômico, ou seja, em inovação.
No Brasil cada real público aplicado tem conseguido alavancar cerca de R$ 0,80 privados, ao passo que em países tecnologicamente mais avançados a relação é inversa, ou seja, o investimento privado é maior que os dispêndios públicos. Em países como a Coréia do Sul e o Japão, por exemplo, a relação entre os dispêndios privados e os públicos chega próximo de 4 para 1. Nesse contexto, convém perguntar: por que as empresas brasileiras investem pouco em inovação?
Um importante fator que explica esse comportamento é o nosso desfavorável ambiente institucional: na visão do empresariado brasileiro, o quadro regulatório e legislativo brasileiro é desestimulante, destacando-se a burocracia, alta carga tributária, impedimentos à importação de insumos e equipamentos estratégicos, morosidade na obtenção de patentes, e ainda a falta de percepção da sociedade acerca da importância da inovação e do conhecimento científico para o desenvolvimento econômico.
É prioritário para o país que mudemos esse quadro. Não se trata de virar de ponta-a-cabeça o modelo brasileiro e copiar o modelo norte americano, por exemplo, onde a ampla maioria dos pesquisadores e produtores de tecnologia está nas empresas. A diferença entre os arranjos institucionais não implica que um modelo seja necessariamente melhor que o outro. É crucial aprimorarmos o modelo brasileiro, buscando melhorias sem motivar grandes resistências que possam desperdiçar tempo, energia e os limitados recursos disponíveis.
O caminho de menor resistência para gerar inovação é aproximar as empresas dos centros geradores de conhecimentos tecnológicos e de pesquisa, que entre nós são as universidades e as ICTs, em geral públicas, ao invés de fomentar as empresas a investirem em seus próprios centros de pesquisas de forma exclusivamente autônoma.
Respeitando as peculiaridades de cada arranjo institucional, o importante é aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), mesmo que os gastos privados sejam alocados no financiamento de atividades desenvolvidas em instituições públicas. A pesquisa colaborativa entre empresas e universidades deve ser fortemente estimulada. Complementarmente, devemos envidar esforços concomitantes para estimular as empresas a criarem seus próprios centros de pesquisa e a contratarem seu próprio corpo de pesquisadores, como ocorre em outros países. Ainda que trilhando diferentes caminhos, é necessário dar novos rumos para a inovação no Brasil.

*Professor titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV)