Cinco da manhã, o sol ainda nem raiou, e a família Belfort já começa a entrar em ação. E com a “matriarca” Joana Prado, que usa as primeiras horas da manhã para si mesma: ginástica, leitura e o que puder curtir antes de acordar os três filhos para a ida à escola e o início de mais uma jornada diária. O ex-campeão do UFC Vitor também não tem moleza. Acorda uma hora mais tarde, porque às 7h já tem de estar dentro da academia, em preparação para seupróximo combate. Uma rotina intensa em que família e trabalho dividem espaço, mas, segundo o casal, não precisam competir.
O cenário de sol, calor e praia de Boca Raton (EUA), cidade localizada a 70 km de Miami, até lembra o Rio de Janeiro de Vitor. Mas as condições de treino, a segurança e a tranquilidade falam mais alto na decisão de se manter à distância do Brasil e também na troca de Las Vegas, onde moraram por anos, pela Flórida, sede da equipe Blackzilians.
Vitor, Joana e os filhos Davi (8), Vitória (6) e Kyara (4) moram entre Boca Raton e Coral Springs, numa casa luxuosa – mas sem exageros – localizada em um condomínio fechado. O lar é espaçoso. Tem sete quartos, piscina, um cômodo só para guardar vinhos e duas salas, uma delas com um cinturão do UFC em exibição. Na garagem, Vitor tem um Porsche arrojado para os momentos de descontração e um Cadillac Escalade mais confortável para quando o quinteto sai junto.
Mesmo com todo esse cenário de bonança, só a cachorrinha Lua é que tem vida mansa por lá. E não só por conta de Vitor e sua jornada em busca de mais um título do UFC. Joana, que ficou famosa no papel de Feiticeira na TV, há mais de uma década, virou a mulher de negócios da família e controla até os gastos do marido. “Se aparece algum valor alto, já chega uma mensagem no meu celular e eu ligo para ele: ‘o que você está comprando?’. Controlo tudo, tudo, aprendi com meu pai”, diz ela, que também faz afunção de dona de casa.
A ex-modelo ainda esbanja boa forma aos 37 anos, mas largou os trabalhos como modelo. Ela conta que relutou em se tornar empresária de Vitor, mas que hoje se sente bem em poder dividir mais um pouco do dia a dia com o marido. “Eu não queria me envolver muito. Mas ele foi pedindo e falei: ‘pôxa, por que temos de ter um manager, se eu posso ser a manager dele?’ Decidimos tudo junto”, explica ela, que pretende adotar um tom discreto como agente do marido. “É bom estar com ele em todos os momentos, dos treinos à assinatura de um contrato de luta.”
Assim como Vitor estipula horários de treino de acordo com as obrigações da família e acorda cedo para poder levar os filhos à escola antes de vestir suas luvas, Joana também o faz. Seu “horário de escritório” é das 8h às 14h, quando ela se tranca em um dos cômodos da casa e alterna entre computador e telefone. Resolve as questões profissionais do lutador e também mexe com outros negócios: ações, as academias (uma no Rio e outra que será aberta na Flórida), questões de patrocínio e a sociedade que Vitor começou com a empresa Bony Açaí, que apoia diversos lutadores do Ultimate.
“Eu consegui estipular uma coisa que está dando certo com este horário, porque antes estava sendo demais. Nesse período só falamos de trabalho. Depois das 14h, às vezes até estamos fazendo algo e começamos um assunto e eu já mudo: ‘não, outro tema!'”, conta a loira, que garante que o casal tem seu tempo só para si, com direito a usar outros lutadores de babysitter quando querem sair para jantar ou viajar. Normalmente, no entanto, às 21h ela já está indo dormir, para recomeçar tudo de novo bem cedo no dia seguinte.
Vitor pai, marido e dono de casa
Além de um treino às 7h da manhã, Vitor Belfort realiza mais um à tarde na Blackzilians, equipe que conta com astros como Rashad Evans, Thiago Silva, Tyrone Spong, Cezar Mutante e outros. As sessões de cerca de duas horas são intensas, principalmente porque ele mistura técnicas de artes marciais como boxe, kickboxing, wrestling e jiu-jítsu com a preparação física, para potencializar os efeitos de cada área.
Além dos treinos e dos negócios, Vitor ainda dá ênfase ao descanso, importante na sua idade, em que o corpo já não tem a mesma resposta à forte carga a que é exposto. Ele passa cerca de duas horas numa câmera hiperbárica, que tem um ambiente com pressão controlada e auxilia na recuperação e trabalha a oxigenação do lutador.
Acabou? Claro que não. O restante do tempo é para o Vitor pai, marido e dono de casa. Na visita do UOL à casa da família Belfort, logo na chegada ele para tudo e coloca as roupas para lavar. “Quando você mora sozinho, logo aprende. Se você não colocar pra lavar, ninguém coloca”, ri ele, enquanto dobra algumas peças e põe outras na máquina.
Foi ele quem preparou o almoço, com uma ajudinha de Joana. “O Vitor está melhorando na cozinha. Antes ele fazia uma bagunça…”, provocou ela. O lutador ainda aproveitou uma rara tarde sem treino para levar todos a um parque e passar algumas horas de descontração.
“É importante eles (os filhos) saberem que são tão importantes quanto meu treinamento. A vida de um atleta é muito corrida. Então, eu escolhi desde que construí nossa família que, na hierarquia, a prioridade era deles. Eles entendem hoje o processo que é, e não é fácil. Essa é a aventura, eu amo estar junto com eles.”
Vitor Belfort, o lutador, vem de quatro vitórias nas últimas cinco lutas e volta ao octógono em Goiânia, no dia 9 de novembro. Ele encara Dan Henderson na revanche do duelo que eles fizeram no Pride e que o norte-americano venceu por pontos em 2006.