O número de pessoas forçadas a se deslocar continua crescendo, ano a ano, no mundo. No ano passado, 79,5 milhões de pessoas estavam deslocadas por guerras, conflitos e perseguições. É o maior número já verificado pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Mais de 1% da população mundial, uma em cada 97 pessoas, está neste momento em deslocamento forçoso.
A Acnur divulgou hoje (18) o relatório Tendências Globais, que traz informações sobre a situação dos deslocados e refugiados em todo o mundo, anualmente. No final de 2018, eram 70,8 milhões de pessoas em deslocamento forçado. Segundo o documento, dois fatores podem explicar o crescente aumento nos números:os novos deslocamentos que ocorreram em 2019 na República Democrática do Congo, na região do Sahel, no Iêmen e na Síria, e a situação dos venezuelanos, que são 3,6 milhões que foram para outros países.
O conflito na Síria, que entrou no décimo ano, já fez 13,2 milhões de refugiados, solicitantes da condição de refugiado e pessoas deslocadas internamente, totalizando um sexto dos deslocados no mundo.
No últimos 10 anos, pelo menos 100 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de casa em busca de refúgio em outras cidades e países. Em geral, 73% dos refugiados e deslocados são acolhidos em países vizinhos ao seu.
No ano passado, mais de 2 milhões de pessoas apresentaram solicitações de asilo. Os Estados Unidos foram o país que mais recebeu pedidos (301 mil), seguido de Peru (259.800), Alemanha (142.500), França (123.900) e Espanha (118.300).
Ainda em 2019, 5,6 milhões de pessoas conseguiram retornar a suas zonas ou países de origem, sendo 5,3 milhões de deslocados internos e 317 mil refugiados.
Dois terços de todos os refugiados e deslocados ao exterior (68%) eram provenientes de apenas cinco países: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Myanmar.
No Brasil, o relatório foi apresentado em uma conferência virtual, que contou com a participação do porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, do secretário adjunto da Acnur no Brasil, Federico Martinez, do coordenador-geral do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), Bernardo Laferté, da diretora do Museu da Imigração, Yilmary de Perdomo, e de Alessandra Almeida, refugiada venezuelana no Brasil.
Federico Martínez ressaltou que, apenas em 2019, estima-se que 11 milhões de pessoas foram deslocadas pela primeira vez. Destas, 2,4 milhões foram para outros países e 8,6 milhões se deslocaram internamente. Martínez lembrou que, entre os 79,5 milhões de deslocados forçadamente, cerca de 32 milhões são menores de idade, o que equivale a cerca de 40% de todos os deslocados no mundo.
Durante a conferência, a venezuelana Yilmary falou sobre sua trajetória de vida, a chegada no Brasil em 2016 e a luta para conquistar um espaço no mercado de trabalho em São Paulo. Terapeuta ocupacional na Venezuela, Yilmary disse que se reinventou e, pouco a pouco, conseguiu montar um negócio gastronômico chamado Tentaciones da Venezuela. Em um depoimento emocionado, Yilmary afirmou que sente orgulho de ser refugiada e representar muitas pessoas que “são guerreiras e recomeçaram a vida do zero”.
Em um primeiro momento, sem conseguir emprego, Yilmary começou a fazer bolos para vender na rua. Pouco a pouco, as encomendas foram aumentando e, com o apoio da Acnur e de organizações não governamentais (ONGs), ela conseguiu estruturar os negócios e se colocar no mercado.
De acordo com o relatório da Acnur, é muito difícil prever o cenário, em número de deslocados, para a próxima década. As mudanças climáticas e os desastres naturais podem agravar as ameaças que obrigam as pessoas a fugir de seus países. Conflitos, fome, pobreza e perseguição são algumas das razões do crescente deslocamento de milhões de pessoas todos os anos.
(Marieta Cazarré – Repórter da Agência Brasil)