A onda de protestos pelo país, iniciada há um mês, impulsionou a queda das tarifas do transporte para mais de um quarto da população brasileira e 70% dos moradores das grandes cidades.
Levantamento da Folha em 90 municípios –capitais e outros com mais de 200 mil eleitores– aponta que 59 deles reduziram as passagens de ônibus, trens ou metrô.
Berço do Passe Livre, Florianópolis mantém valor de passagens
Significa que pelo menos 53 milhões de habitantes acabaram beneficiados pela queda do preço do transporte –sem contabilizar os que vivem em municípios menores.
A série de manifestações pelo país ganhou corpo depois de um ato em São Paulo do Movimento Passe Livre, que reivindica tarifa zero.
De lá para cá, protestos levaram mais de um milhão às ruas, incorporaram reivindicações variadas e motivaram governos a anunciar medidas como a queda das tarifas.
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Todas as 90 cidades consultadas, por exemplo, foram alvo de manifestações da população de um mês para cá.
Uma desoneração de impostos do governo federal para as empresas de ônibus, no começo de junho, também contribuiu com as decisões de prefeitos e governadores.
Mas desonerações anteriores nunca motivaram quedas de preço em sequência. E a mais recente não seria suficiente para cobrir os custos das diminuições anunciadas no valor das passagens.
Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, a eliminação da incidência de PIS/Cofins sobre a receita das empresas de transporte, que entrou em vigor em junho, causou impacto de 3,65%.
Enquanto isso, mesmo com a evolução inflacionária dos últimos anos, tarifas chegaram a cair bem mais –acima de 9% em Campinas e de 6% em São Paulo, por exemplo.
A queda do preço também trouxe preocupações sobre a redução de investimentos –como a estagnação ou piora da qualidade dos serviços.
“A redução da tarifa não representa mais qualidade e conforto para os passageiros. Isso, só com investimentos na infraestrutura, como em corredores de ônibus”, defende Otávio Cunha, presidente da NTU (associação nacional das empresas de ônibus).
Os protestos também levaram às ruas reivindicações como melhorias na saúde e educação. O efeito mais direto, no entanto, foi no preço do transporte público.
“Se levar em consideração só os protestos dos últimos 30 dias, a única medida foi a redução da passagem de transporte coletivo”, afirmou José Fortunati (PDT), prefeito de Porto Alegre e também presidente da Frente Nacional de Prefeitos.
Dentre as 31 cidades que não baixaram a tarifa de ônibus após os protestos, 12 congelaram possíveis aumentos –boa parte não tinha reajuste havia mais de dois anos.
Em algumas lugares, como no ABC Paulista, aconteceram duas reduções seguidas –a primeira devido à desoneração de impostos e a segunda, sob pressão dos atos.
Em Belo Horizonte, a tarifa que havia caído R$ 0,05 no dia 29 caiu mais R$ 0,10 ontem –ficando em R$ 2,65. (ANDRÉ MONTEIRO, FELIPE GUTIERREZ, GIBA BERGAMIM JR., RICARDO GALLO E TALITA BEDINELLI)