Presos do CDP (Centro de Detenção Provisória), considerado o mais violento do complexo penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, ameaçam iniciar uma nova onda de ataques caso as transferências anunciadas pelos governos do Estado e federal sejam realizadas.
O UOL teve acesso, com exclusividade, ao CDP, na tarde desta sexta-feira (10), durante visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Foi a primeira equipe de reportagem a entrar no local desde que eclodiu a crise no sistema prisional do Maranhão, que tem como foco o complexo de Pedrinhas.
Superlotado, com 1.700 vagas e 2.200 presos, o complexo registrou 62 mortes desde o ano passado –60 em 2013 e duas neste ano. Após uma intervenção da PM (Polícia Militar) no complexo, detentos ordenaram ataques fora do presídio — em um deles uma menina de 6 anos morreu depois de ter 95% do corpo queimado em um ônibus que foi incendiado por bandidos.
Segundo a Secretaria de Estado da Justiça e Administração Penitenciária, o CDP tem 698 presos, mas só tem capacidade para 402. Foi lá que três presos foram decapitados, em dezembro de 2013. Foi de lá também que partiram as ordens de ataques a ônibus no último dia 3. Por conta da tensão no local, a defensoria pública suspendeu os atendimentos no local.
Segundo um dos detentos, que prestou depoimento à comissão, os ataques aos ônibus ocorreram para que a PM (Policia Militar) –que ocupou o presídio no último dia 27— deixasse o local. O temor agora é que a transferência seja efetivada.
“Eles tão com medo dessa transferência, eles não estão sabendo quem vai. Mas sei que, conforme seja, nos primeiros dias vai ter de novo [ataques] para tentar colocar pressão na população, na sociedade, na imprensa, no pessoal da secretaria, mas não vai ser assim [como esse] não. Tem uns aí que não podem mais cair por ali, pois não acataram a ordem, que era tirar todo mundo dos ônibus”, disse o detento.
Segundo o preso, a ordem era não matar ninguém, mas o atentados resultaram em quatro feridos e a morte de uma criança de seis anos.
“Não era para matar ninguém. A ordem era só para era só para tocar fogo em ônibus, para chamar a atenção e tirar a PM daqui. Era isso que eles queriam”, afirmou.
Segundo a presidente da comissão, Eliziane Gama (PPS), o clima de tensão aponta para a possibilidade de novas rebeliões, justamente pelos presos acusados de praticar os atentados.
“Eu percebi esse risco por conta da superlotação. O pessoal da triagem, que é o pessoal preso recentemente, inclusive o pessoal suspeito dos atentados, está numa situação mais complicada pelo nível de periculosidade. Precisaria dar atenção diferenciada”, afirmou.
Briga entre facções
O detento afirmou ainda que a ordem de incendiar os ônibus partiu do Bonde dos 40, uma das duas facções criminosas que dominam o complexo. Por conta da morte da criança, e de outra ordem que não teria sido cumprida, um dos presos acusados de atacar o ônibus está marcado para morrer.
“Eles estão brigando porque duas ordens que foram feitas e não foram cumpridas. Uma foi matar a criança, e a outra lá no Vila Nova, que deram ordem para o ‘Babaninha’ e fizeram errado. Era para não matar um pessoal lá”, afirmou.
O detento ainda afirmou que a presença da PM no presídio conferiu mais ordem ao local. “A PM ajuda muito, eles têm medo. Em 2002, quando cheguei aqui, tinha polícia em todo canto. Ficavam aqui e não tinha morte não. Todo tempo teve respeito”, disse.
UOL presencia superlotação
O UOL visitou celas e conversou com presos, que relataram uma série de problemas. O prédio aparenta ter boas condições, mas as celas são superlotadas. Em uma delas, havia 22 presos, onde há capacidade para apenas oito.
As celas são abafadas e extremamente quentes. Outra reclamação é que faltam roupas por muitos meses para eles, assim como aguardam andamento de processos.
Em meio ao aperto e rostos cobertos, muitos presos relatam que temem pela vida. Um preso fez questão de mostrar uma marca no dorso que, segundo ele, teria sido causada por um tiro de bala de borracha dado à queima-roupa. A denúncia é contra integrantes da Força Nacional, que está no local desde o dia 27.
Em uma das celas, dois presos mostram ferimentos no rosto. Eles não relataram o motivo. Na mesma cela, eles relatam que a água do banheiro é suja.