Pelo menos 14 milhões de alunos da rede de ensino estadual de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, além dos alunos da rede municipal da capital paulista, estão sem aula por determinação do governo como estratégia para conter o avanço da nova gripe.

O número pode ser ainda maior porque as prefeituras também têm a prerrogotiva de suspender as aulas na rede municipal de ensino.

No Rio, Paraná e Minas, as aulas na rede estadual serão retomadas na próxima segunda-feira (10). Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, a previsão de reinício é dia 17.

A decisão ocorreu em cada estado, não foi uma determinação do Ministério da Saúde. O governo federal deu aos estados a incumbência de decidir.

A ordem de suspender as aulas como alternativa para conter o avanço da doença ocorreu gradativamente em cada local. Primeiro foi São Paulo, no último dia 28, depois Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal dia 29, Paraná no dia 30 e Minas no dia 31.

O Ministério da Saúde reiterou, por meio de nota divulgada nesta terça (4), que cabe a cada estado decidir.

Segundo a nota, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, considera “desnecessário que, nas localidades onde não houve adiamento da volta às aulas, pessoas sem qualquer sintoma de gripe permaneçam em casa, longe das escolas”.

Diretor do Centro Estadual de Vigilância à Saúde do Rio Grande do Sul, Francisco Paz informou que a decisão de prolongar as férias escolares no estado foi tomada depois de “uma grande discussão” entre especialistas e a sociedade civil.

“Nós avaliamos todas as variáveis e entendemos que a suspensão das aulas para nós, no momento, seria mais benéfico para administrar a situação. (…) Se tivermos muitos casos concentrados, nosso sistema ficará colapsado. Nossa decisão tem razão clara, queremos prorrogar número de casos e há indícios que medida pode reduzir o número de casos.”

No entanto, a eficácia da medida mesmo em locais onde os casos são concentrados, divide a opinião de especialistas em saúde.

Contra

O infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), discorda do adiamento das aulas.

“Não precisa parar as aulas. O que precisa é uma atitude didática de ensinar os jovens os bons modos de antigamente: não tossir na cara das pessoas, não espirrar na cara das pessoas, usar lenços, não ficar beijando e abraçando todo mundo, lavar as mãos frequentemente. Isso já evita a contaminação pelo vírus”, afirma.

Segundo Olzon, o retorno após o dia 17 não significa que os alunos estarão mais seguros. “Do jeito que está, você acha que teremos mais ou menos casos daqui duas semanas? Mais, provavelmente. Vamos fazer o quê? Ficar adiando? Desse jeito, os alunos só voltam pra escola quando a epidemia acabar”, afirma.

Nancy Bellei, especialista em gripe da Unifesp, concorda com o colega. “Não adianta suspender aula e as crianças continuam normalmente em shoppings e usando transporte público”, avalia.

Outro problema do adiamento, na avaliação da especialista, é que o poder público perde um instrumento excelente para rastrear a doença. “Os dados de absenteísmo escolar são excelentes indicadores de circulação do vírus”, afirma. “Como fica todo mundo sem aula, nós perdemos a chance de obter esse dado.”

A favor

David Uip, infectologista do hospital Emílio Ribas, participou da decisão de prolongar as férias em São Paulo e votou a favor do adiamento das aulas.

“É uma medida que evita que o vírus se espalhe. A criança transmite por até 14 dias, o adulto por sete”, afirma. Uip apresenta ainda outro motivo: as férias. “Durante as férias muita gente viajou. Esse tempo permite que você descubra e trate os casos de quem pegou o vírus no período”, explica.

Caio Rosenthal, infectologista do Hospital Emílio Ribas, também considera correta a decisão dos cinco estados que suspenderam as aulas. “Com as condições climáticas melhorando, as chances de transmissão do vírus H1N1 caem.”

Para ele, porém, adiar até o dia 10 seria suficiente, não precisaria prolongar até dia 17 como ocorreu em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Pais também divididos

Assim como os especialistas, os pais também estão divididos sobre a medida.

A recepcionista Solemar Justino dos Santos, de São Paulo, tem dois filhos na rede estadual de São Paulo, um com 10 e outro com 11 anos. Ela concorda com a medida.

“Se eles estão correndo risco, o melhor é adiar as férias mesmo. Só espero que eles façam a reposição das aulas para não prejudicar.”

O operador de fotocópias Daniel Machado Rosa, também de São Paulo, tem um filho de 5 anos em uma creche. Para ele, não adianta ficar em casa como medida para conter a transmissão.

“Ele tem uma amiguinha que fica em casa e pegou. No meu caso, não voltar as aulas prejudicou muito porque não tenho com quem deixar. Vou ter que ficar dormindo o tempo todo na casa da minha mãe para ela cuidar dele. Muda toda a rotina. Como a gente faz? Faltar no serviço não pode.”

Outros estados

Em Santa Catarina, outro estado que registrou casos de nova gripe, o governo do estado decidiu não prolongar as férias.

“São 66 casos em um universo de 6 milhões de habitantes. Não existe um surto de fato. Mas, pedimos para que os pais não mandem seus filhos gripados para a escola, e, se existir problema em um determidado colégio, vamos agir naquele foco. Parar todas as escolas é uma precaução desnecessária”, afirmou o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) na segunda-feira (3), de acordo com a assessoria de imprensa.

O Distrito Federal adiou por uma semana a volta das férias e as aulas foram retomadas na segunda (3). Mato Grosso e Goiás informaram que estão monitorando os casos suspeitos, mas informaram que não verificaram necessidade de prolongar as férias.