O Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), do câmpus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e o Centro de Análise e Planejamento Ambiental (Ceapla), do câmpus de Rio Claro, integram equipe de pesquisa que detalhará o impacto da poluição gerada por queimadas em canaviais.
As unidades estão incluídas em um amplo projeto, o Cenpes – Cana, promovido pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. A empresa distribuidora nacional do álcool combustível pretende analisar a qualidade do ar em diferentes cidades do Estado de São Paulo para determinar a influência das atividades sucroalcooleiras no ambiente e nas mudanças climáticas.
Parte das medições será feita pelo Laboratório de Monitoramento Ambiental (Lapam), inaugurado em março, no IPMet, por ocasião do Dia Meteorológico Mundial. Para realizar a investigação, a Unesp dispõe de um aparelho chamado Sodar (Sonic Detection And Ranging), que permite visualizar os fluxos das correntes de ar.
O equipamento emite ondas acústicas, que retornam quando atingem qualquer obstáculo, como nuvens, por exemplo. O som é então captado por microfones especiais e, a cada 30 minutos, são atualizados os gráficos que mostram a direção dos ventos. “Com esses instrumentos podemos dizer para onde a poluição produzida numa determinada região vai, naquele momento”, garante Gerhard Held, coordenador do Lapam.
Uso itinerante
Outro dispositivo que ajuda na investigação é o Lidar (sigla para o termo inglês Light Detection and Ranging). Ele lança feixes de raios laser na atmosfera para fazer as medições e é extremamente sensível à presença de aerossóis – conjunto de partículas minúsculas suspensas no ar. Esses resíduos são gerados naturalmente por vegetais, atividades vulcânicas, pulverização da água e tempestades de areia.
As queimadas, naturais ou provocadas, e as atividades humanas contribuem para o aumento da produção desta poluição, que, além de comprometer a respiração, pode alterar a duração e atividade das nuvens.
O aparelho é de uso itinerante e ficou em Bauru de 1º a 9 de fevereiro, quando pôde medir as condições atmosféricas no fim da safra da cana, tempo em que as queimadas já tinham cessado. Esses dados serão confrontados com outros, produzidos pela mesma máquina, que voltará a operar na unidade no período de queima nos canaviais.
Além do IPMet e do Ceapla, participam da pesquisa o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), da USP; o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e o Centro de Ensino e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema), do câmpus de Cubatão da USP.
Pioneirismo
Durante a inauguração do Lapam, comemoraram-se os 35 anos de utilização do Radar (Radio Detection and Ranging), no IPMet, completados em 2009. O instituto foi o primeiro da América Latina a adotar essa tecnologia, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O Radar emite ondas eletromagnéticas que são refletidas pelos objetos, permitindo determinar a localização. O primeiro modelo utilizado na Unesp foi o Banda – C, que operou em sistema analógico de 1974 a 1978, passando para digital, e mantendo-se ativo até 1992. Hoje, o instituto oferece dois modernos radares do tipo Banda S – Doppler, que cobrem quase a totalidade do território paulista, além de parte do Estado do Paraná, do Mato Grosso do Sul e do Triângulo Mineiro.
O IPMet também foi pioneiro no Brasil em 2005, quando passou a trabalhar com a previsão em tempo real, empregando a tecnologia Titan (Thunderstorm Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting). A principal atribuição do instrumento é permitir a exploração dos dados obtidos pelos radares. Alertas são emitidos para a Defesa Civil sobre eventos meteorológicos severos, como fortes tempestades e chuvas de granizo. Atualmente, o serviço atende às regiões centrais e ao oeste paulista, mas a meta é estender a cobertura para todo o Estado de São Paulo.