Relatório lançado hoje (1°) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alerta que os conflitos armados privam 28 milhões de crianças da oportunidade de estudar. O número representa 42% do total da população em idade escolar que não têm acesso à educação.
O Relatório de Monitoramento Global de 2011 aponta que o impacto dos conflitos na educação “tem sido amplamente negligenciado”. O relatório mostra que apenas 2% do dinheiro arrecadado para ajuda humanitária é investido na área. O orçamento militar supera o da educação básica em 21 países que estão entre os mais pobres do mundo. “Se eles cortassem os gastos militares em 10%, poderiam incluir um adicional de 9,5 milhões de crianças na escola”, diz o estudo. Entre esses países estão o Paquistão, o Vietnã, o Afeganistão, Serra Leoa e a Etiópia. A Unesco defende que é necessário criar uma nova lógica de distribuição dos recursos reconhecendo a importância da educação em situações de emergência.
Diante das consequências de um conflito – mortos, destruição de estruturas físicas e dificuldades econômica – os impactos no processo educacional ficam ocultos. “Nós sabemos que a educação é um processo fundamental para o desenvolvimento de um país nessa situação. Crianças e jovens perdem meses ou anos por causa da guerra. É um dano irreparável, não só para o indivíduo, mas para a sociedade inteira que perde gerações por causa de um conflito”, aponta Paolo Fontani, coordenador de Educação da Unesco no Brasil.
Fontani já trabalhou na reconstrução de sistemas educativos de países afetados pelo problema, como a Bósnia e o Afeganistão. “A educação é um processo a longo prazo, os recursos captados se concentram mais na parte da reconstrução física que dá um sentimento de satisfação imediata. A reconstrução de estradas, hospitais, o fornecimento de água e comida, isso é muito importante. Mas perde-se de vista que a educação representa um processo fundamental de reconstrução em qualquer tipo de sociedade”, aponta.
Refugiados e populações que se deslocam dentro dos países em função dos conflitos enfrentam “grandes barreiras” para a educação. “Em 2008, apenas 69% das crianças refugiadas em idade escolar primária nos campos da Acnur [Agência das Nações Unidas para Refugiados] frequentavam a escola primária”, diz a pesquisa.
Se o Brasil está livre das guerras, Paolo alerta que a violência urbana, como a enfrentada pelas crianças em comunidades cariocas, também tem impacto na aprendizagem. Escolas fechadas por causa de tiroteios, professores que não conseguem chegar ao local de trabalho ou famílias que optam por não levar o filho à escola por questões de segurança são questões que afetam o desempenho da criança.
Além das consequências mais visíveis, Paolo ressalta que a violência também prejudica o desenvolvimento psicossocial da criança – o que impacta diretamente no desempenho escolar. “Um exemplo típico é o da criança que chega cansada à escola, que não presta atenção na aula e não se concentra. O professor pode não saber que ela mora numa comunidade que tem tiroteios à noite e ele não consegue dormir. O medo tem um impacto na vida da criança”, aponta o coordenador da Unesco.