Quando os fabricantes de aço europeus começaram a reduzir suas encomendas no final do ano passado, muitos dos 4.300 trabalhadores da mina de minério de ferro de Sishen, na província de Northern Cape, na África do Sul, ficaram compreensivelmente nervosos a respeito de seus empregos. Dez meses depois essa ansiedade é uma lembrança distante.

Um aumento de 35% na demanda pela indústria em crescimento da China compensou a queda de 50% nos pedidos da Europa, Japão e Coreia do Sul, atingidos pela recessão. Os executivos da Kumba, a subsidiária anglo-americana que administra a mina, estão dando andamento aos planos de expansão.

Para Eddie Majadibodu, um sindicalista que negocia em prol dos mineradores, isso representa um contraste animador em comparação ao pessimismo em setores como o de platina, onde milhares de empregos foram perdidos. “Havia preocupações, mas a empresa está se saindo bem”, disse.

Kumba não a única empresa a se beneficiar com o rápido crescimento do comércio entre África do Sul e China. Na primeira metade deste ano, enquanto as exportações para a Alemanha, Reino Unido, Japão e os Estados Unidos despencaram, a China continuou crescendo e comprando quantidades cada vez maiores de minério de ferro, cromo e outras matérias-primas sul-africanas.

No mais recente sinal das relações cada vez maiores da China com a África, o quinto maior mercado exportador para a África do Sul há um ano é agora o destino mais importante para os bens do país.

A ascensão da China como maior mercado de exportação da África do Sul coincide com os sinais de crescente interesse de investimento pelos chineses. Ela parece estar afastando as preocupações anteriores na África do Sul de que a força industrial da China e a força de suas exportações de eletrônicos e têxteis pudessem sufocar a indústria doméstica.

Com as ligações com países como Brasil e Índia também se tornando mais fortes, pela primeira vez desde que o Congresso Nacional Africano assumiu o poder em 1994, no final do domínio branco, o interesse do ex-movimento de libertação em promover um chamado eixo Sul-Sul ligando grandes nações emergentes e a África mostra sinais de estar sendo seguido pela realidade econômica.

Apesar de grande parte dos cerca de US$ 7 bilhões que a China investiu na África do Sul até o momento envolverem a compra pelo Commercial and Industrial Bank of China de uma participação de 20% no Standard Bank sul-africano, há dois anos, há outros sinais de maior interesse.

Os banqueiros informam que os investidores chineses podem adquirir participações em mineradoras locais, especialmente as pequenas empresas mal capitalizadas que ficaram enfraquecidas pela recessão do último ano.

“Há muita sondagem ao redor. Nós recebemos uma ou duas pessoas toda semana”, disse um banqueiro de investimento em Johannesburgo.

De modo mais amplo, a infraestrutura de transporte e comunicações da África do Sul a transforma em um local atraente para as empresas chinesas que atuam em outras partes da região.

Uma grande trading chinesa recentemente abriu uma subsidiária na Cidade do Cabo para atender um projeto de investimento imobiliário multimilionário em Angola.

Os observadores ainda acreditam que as relações se desenvolverão de forma relativamente lenta. Os banqueiros apontam para os problemas logísticos, argumentando que as empresas às vezes têm dificuldade para obter fundos da China.

O impulso da China já enfrentou uma resistência política e cultural e há sempre uma chance de isso poder se manifestar de novo.

Há apenas três anos, Thabo Mbeki, o então presidente, alertou a respeito dos riscos de um novo relacionamento colonial, levando o governo a impor cotas temporárias às importações de têxteis chineses em 2007 e 2008. “Eles nem sempre são recebidos de braços abertos”, acrescentou o banqueiro.

A curto prazo, a posição comercial dominante da China pode enfraquecer à medida que a Europa se recuperar. Os executivos da Kumba, por exemplo, esperam que as vendas para a China diminuam como uma proporção das vendas totais no próximo ano.

Igualmente, há indicações de que apesar de fatores cíclicos serem responsáveis pela aceleração deste ano, os laços da China com a África do Sul só poderão se tornar mais fortes a longo prazo.

Varejo seduzido pela promessa oriental

As matérias-primas representam grande parte das exportações sul-africanas para a China, mas empresas de outros setores, incluindo vinho, estão despertando para o potencial dos mercados orientais, como escreve Richard Lapper.

No final de agosto, as vendas de Chenin Blanc e Chardonnay para a China aumentaram quase três vezes em comparação ao mesmo período no ano passado. “Os chineses costumavam comprar vinho a granel, misturar com seu produto local e vendê-lo como vinho da China. Agora eles compram vinhos de marca”, disse Michaela Stander, uma gerente de marketing para Ásia da Wines of South Africa.

Ao todo, as exportações da África do Sul aumentaram para 32,5 bilhões de rands (US$ 4,4 bilhões) nos primeiros sete meses do ano, segundo números do Ministério do Comércio e Indústria, um aumento de 46% em relação ao mesmo período em 2008. A ascensão da China a principal mercado importador da África do Sul ressalta a importância dos laços comerciais entre os dois países.

Os sul-africanos “estão cada vez mais buscando fornecedores no Oriente”, disse Cees Bruggemans, economista-chefe do First National Bank em Johannesburgo. “Está acontecendo mais rápido do que eu esperava.” A tendência reflete a importação de roupas e eletrônicos baratos, mas os varejistas voltados para a classe média também estão comprando da China.

Martyn Davies, chefe da consultoria Frontier Advisory, estima que, em média, os varejistas com capital aberto da África do Sul compram dois terços de produtos não-alimentícios da China.

Por exemplo, a Builders” Warehouse, uma subsidiária da empresa de varejo Massmart, listada no mercado de ações, lançou suas próprias marcas de itens importados diretamente de fábricas baseadas em Guangdong e outras cidades chinesas.

Esses produtos, que geralmente são vendidos com um desconto de 30% em comparação às marcas principais (que as lojas também vendem), estão ganhando rapidamente participação de mercado, disse Neville Hatfield, da Builders” Warehouse.