Quando a educadora Hazel Tau descobriu que era portadora do vírus HIV, em 1991, a Aids não era vista como um problema grave na África do Sul ou sequer tratada como uma epidemia. Justamente por ser pouco discutida, a doença estava carregada de estigmas e quem a contraísse precisava enfrentar a ignorância da população, o que na vida de Hazel significou perder casa e marido.
“Naquela época as pessoas comparavam quem tinha Aids a leprosos. Acreditava-se que o ato de usar uma mesma roupa ou de dividir um sofá era contagioso. Conhecimento zero, principalmente nas comunidades mais pobres. Meu marido me largou sem nada e olha que peguei a doença dele “, conta ela, que após o episódio se tornou uma ativista na luta contra a Aids e hoje trabalha numa clínica particular de Joanesburgo que oferece tratamento com anti-retrovirais (ART) a preços acessíveis para a classe média baixa.
O caso de Hazel é apenas um na triste realidade sul-africana. Anos de desinformação atrelados a medidas desastrosas de governos anteriores transformaram a África do Sul no país com a pior epidemia da doença em todo o mundo – são 5,7 milhões de infectados, o que corresponde a mais de 10% de sua população de 49 milhões. A situação é tão grave que por causa da doença a expectativa de vida sul-africana é de apenas 47 anos, quase igual a do Afeganistão (44 anos) que está em guerra.
No entanto, o país parece estar hoje na direção certa para controlar a epidemia. Há menos preconceito e mais conhecimento por parte da população. Além disso, o governo do atual presidente Jacob Zuma tem investido bastante em campanhas de conscientização e prevenção.
Para reverter o quadro, Zuma busca, acima de tudo, se distanciar da figura de seu antecessor Thabo Mbeki, acusado por muitos especialistas de ser o grande responsável pelo agravamento da epidemia no país. Durante seus dois mandatos, Mbeki fez muito pouco para evitar o aumento dos casos. Pior, chegou a negar que o vírus HIV causava a Aids.